sábado, 4 de dezembro de 2010
Postagem 51
sábado, 20 de novembro de 2010
Açude Mário Bezerra
Bibliografia citada:
Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de limnologia. 2ed., Interciência, Rio de Janeiro, RJ. 602pp.
Mais uma, menos uma... que diferença faz?
A idéia mais inteligente, no meu pornto de vista, seria contruir barragens onde já existe o impacto causado por uma outra já instalada. Já que fomos tão burros em utilizar esse sistema para geração de energia elétrica, que os impactos sejam causados em ecossistemas já conhecidos do ponto de vista ecológico. Torço pra que as usinas no Parnaíba não sejam mais alguns elefantes brancos, como muitos no país. Alea jacta est.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Todas as "Mayaras" são o ponto de interrogação?
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Reserva Biológica do rio Trombetas - Pará
domingo, 26 de setembro de 2010
Save the planet
http://www.youtube.com/watch?v=X_Di4Hh7rK0
Ecos para um surdo
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Caboco sonhador
Qual a tua teoria?
E haja tanta viajem...
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Rios da Amazônia
Já os rios de águas claras (3) drenam áreas também relativamente antigas, mas diferente dos de água preta, drenam áreas do escudo central brasileiro. Nesses locais, a luminosidade penetra com mais intensidade que nos demais ambientes, pois eles não carreiam grande quantidade de sedimentos, nem tão pouco possui altas concentrações de ácidos, o que alteraria sua coloração. Por isso, uma maior produtividade primária é conferida a esses ecossistemas, pois há uma maior taxa de fotossíntese por organismos produtores, levando a uma maior diversificação de organismo e, por sua vez, maiores interações entre estes. O rio Xingu, Tapajós (no Pará), Tocantins (imagem 2, fonte: www.gobrasil.net/brasil/tocantinsPOR.shtml) e Araguaia são exemplos de rios de água clara. São considerados atualmente um dos maiores centros de endemismo** na Amazônia
** Endemismo (de Endêmico): significa que uma espécie ou conjunto delas só ocorrem num único lugar;
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Entenda um Biólogo...
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Muzeu de Zoologia da Usp - Muzusp
É isso que a Amazônia tem oferecido. E é por isso que tenho lutado com todas as forças para divulgar tudo isso aos meus conhecidos que acham que não têm oportunidade na vida depois de formado na faculdade. Tudo não passa de falta de informação e de busca dos sonhos. Espero estar sendo sensível o suficiente para que algumas pessoas possam também lutar e mudar a realidade da nossa região, que infelizmente carece de profissionais em várias áreas.
sábado, 12 de junho de 2010
Na Marupiara não existe panema
Pensando nisso alguns alunos de PCI (Programa de Capacitação Interna) do INPA resolveram investigar a fauna de peixes de diversos igarapés dessa região no sentido de entender seus vários aspectos como, por exemplo, a evolução desses bichos que, ao que tudo indica, têm uma estreita relação com o ambiente.
É nesse lugar que estão peixes bem curiosos da família Crenuchidae (Pisces: Characiformes) que chamam atenção pelas suas grandes nadadeiras. Essa é só uma das tantas adaptações que os bichos devem ter pra enfrentar as fortes corredeiras, que são abundantes na região. Coletamos nesse lugar espécies dos gêneros Characidium, Leptocharacidium e Melanocharacidium (foto) que se adaptaram morfologicamente, sempre mimetizando o ambiente. Como seus locais preferidos são pedrais em fortes correntezas, eles precisam necessariamente de um ambiente muito bem oxigenado, o que significa dizer que se esses lugares não mais existirem, tais bichos estarão fadados à extinção.
Pra coletar esses caras não foi nada fácil, muito menos pra quem não tem tanta experiência que nem eu. Foram empregadas redes de arrasto e por conta da forte correnteza fomos obrigados a enfiar um neoprene pra mergulhar e catar os bichos com redinhas de mão. A idéia também é fazer uma espécie de catálogo com as diversas espécies de peixes daqui para divulgar mais ainda o local. Assim, outras pessoas poderão ter a oportunidade de usufruir do ambiente com mais responsabilidade.
E, como os amazônidas falam, nós não panemanos* dessa vez. Lá na Marupiara é impossivel pra qualquer pescador não pegar nada (risos). Apesar das grandes investidas que nós seres humanos fazemos para que o planeta entre em colapso, a vida sempre nos dá respostas incríveis e na maioria das vezes ininterpretáveis por nosso tão grandioso "arsenal bélico" de conhecimento.
Tentei postar um videozinho do lugar só pra deixar vocês com um pouquinho de inveja, mais infelizmente minha internet aqui é uma piada. É uma riqueza só esse lugar! prometo que vou continuar tentando. Ah, ia esquecendo: na Marupiara tem bar e ambientes temáticos, restaurante e chalés para casais com diária a R$ 130,00. Vale a pena conhecer, sempre há o que fazer na sua excelente infraestrutura.
* panemar, para os amazônidas significa ter azar na pesca
sábado, 5 de junho de 2010
Dia internacional da pátria amada
É nessa data que mais tenho a certeza que um dia internacional disso ou daquilo na maioria das vezes é pura bobagem, ou no mínimo, coisa de alguém que nunca teve o que fazer. Sempre passa um filmezinho na minha mente toda vez que ouço falar de um feriado ou dia comemorativo, e sempre penso o porquê e qual a vantagem de termos um dia tão especial para cada valor que temos. Tipo, um dia das mães, um natal ou alguma coisa nessa linha, certamente tem um significado para a maioria das pessoas com um “enredo”, uma historinha que as fazem refletir e acharem que podem ser melhores que são.
Agora me pergunto o que vamos refletir num dia como o do “Meio Ambiente”. Primeiro, por ser um termo redundante (se é meio, não é ambiente?) e depois por tudo que a espécie humana (dona/autora do valor da data) tem feito em prol do meio onde vive. Depois de pensar um bocado sobre o tema, quis justificar, como ser humano, que de repente isso serve de alerta para uma grande maioria da população que tem acesso a informação mais não faz uso adequado dela por diversos motivos. Do meio pro fim da reflexão, me vi num velório onde o defunto era nada mais nada menos que o planeta (risos).
Parece também um ato heróico de alguém que, por algum motivo, convenceu meio mundo de pessoas a lembrar que o nosso hábitat é algo concreto, que existe de fato. Entretanto, não creio que temos muita coisa a comemorar. Todos estão carecas de saber que nós (Homo sapiens) somos os principais causadores de problemas ambientais gravíssimos, como por exemplo, a poluição e a extinção de grande parte da fauna e flora contemporânea. Fiquei, no entanto, viajando e imaginando como nossos amiguinhos da megafauna sucumbiam diante de uma organização tão eficaz quanto a nossa, apesar de sermos tão menores que eles... É a lei do mais forte, já dizia também Darwin.
Só que a organização do nosso Homo primitivo (se assim posso chamar) contrasta gritantemente com a atual, no meu modo de pensar. Hoje temos carne no açougue pra comprar (e por peça ein!) arroz, feijão e milho enlatado, além de otras cositas más que são gostosas. No Brasil, temos ainda samba (que adoro!), mulheres lindas (nossa, quanta riqueza!) e toda essa riqueza biológica debaixo de nossos narizes. Mas, o mais legal disso tudo é que temos futebol! E é aqui que, de quatro em quatro anos, nós somos tão patriotas quanto cuidamos do nosso ambiente. Legal né?
O ser humano é sim um bicho muito interessante e quando ele quer, faz. Não é a toa que chegou a lugares tão inóspitos, apesar de não ser tão bem adaptado quanto achamos. A prova disso tudo, é só ir ao bairro Coroado, aqui em Manaus ou a tantos outros lugares Brasil afora, onde a paisagem atual foi rapidamente modificada em tons de verde-louro de nossa flâmula. E os carros? Cada um deles tem uma bandeirinha tremulando na anteninha, muito bonitinho. Tão bonito quanto a fumaça não catalisada de alguns caminhões que também têm tal adereço.
É isso ai. No final das contas “Meio Ambiente” se torna, em todos os sentidos, tão ridículo e hipócrita quanto o nosso patriotismo. Salve a pátria amada!
domingo, 23 de maio de 2010
Peixe, peixinho e peixão
Na Amazônia o quadro é totalmente diferente: devido à grande fartura e oferta de diversas espécies de peixes nativos, os amazônidas consomem cerca de 55 Kg/pessoa/ano (ao passo que em países como a Noruega e Finlândia as pessoas consomem até 70 Kg por ano). Tem até um jargão popular que diz "quem come jaraqui não sai mais daqui" em referência ao consumo de um peixe da famila das curimatãs bastante apreciado na região. E é muito comum ver nos mercados municipais várias outras espécies sendo vendidas em qualquer época do ano, garantindo sobretudo, a sobrevivência de inúmeros feirantes.
Comer peixe é bom e faz bem. O produto é rico numa substância chamada de Ômega 3, importante na redução de ácidos graxos considerados ruins para a saúde, como o LDL (o colesterol ruim) e outros triglicerídeos. Além disso, ele é importante em processos inflamatórios, por atuar também na formação de anticorpos.
Por isso, de meados da década de 1980 pra cá, muitos pesquisadores atentaram para a iminente guinada na produção de pescado em nosso país. Também, é fácil entender, pois temos inúmeras espécies com enorme potencial comercial. Em minha atual passagem pela Amazônia, tive o prazer de conhecer várias etapas da cadeia desse ramo produtivo, que se inicia na alevinagem (produção de alevinos) e termina na engorda e venda. O Inpa - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - toca vários projetos com produção de pescado que têm beneficiado dos pequenos aos grandes produtores. Atualmente, os pesquisadores do instituto tem um grande desafio: entender como o pirarucu (Arapaima gigas) pode ser induzido a se reproduzir em cativeiro.
Inúmeros pesquisadores estão envolvidos nesse projeto, mas enquanto as respostas para as diversas perguntas não são alcançadas, outras espécies já figuram com ótimas condições de produção e tradicionalmente já fazem parte da rotina de uma piscicultura. Uma delas, o tambaqui (Colossoma macropomum) é amplamente difundida nas fazendas de peixe da Amazônia e de todo o Brasil, inclusive com espécies híbridas.
Numa das visitas técnicas promovidas pelo curso, pude ver na pratica como funciona o processo de alevinagem em tambaquis. Foi na fazenda Santo Antônio, no município de Rio Preto da Eva-AM, onde o MSc Alexandre Honczaryk nos mostrou detalhes de como obter bons alevinos para engorda. O video abaixo pode exemplificar como ocorre a extrusão de ovócitos e espermatozóides para a fecundação e posterior encubagem dos ovos. Foi um momento mágico ver a vida surgindo com uma ajudinha nossa.
Outra iniciativa importante diz respeito à criação de matrinchã (Brycon sp.) em canais de igarapés. Dessa maneira, pequenos produtores podem com pouca estrutura e espaço, produzir o pescado de forma sustentável. Funciona assim: o igarapé de terra firme (ou riacho, como conhecemos) é canalizado por no máximo 30 metros, onde o fluxo da água é controlado por uma espécie de desvio do seu curso principal. O viveiro é então montado num dos leitos do canal com tábuas de madeira e a água corrente se encarrega de fazer a ciclagem dos nutrientes que são lançados no sistema. Vale lembrar que no estado já existe legislação para isso, apoiado em pesquisas sobre produção primária desses ambientes. Por lei, uma distância mínima de 90 metros entre viveiros é o bastante para que o ecossistema não sofra com a entrada excessiva de nutrientes.
Estar na Amazônia é isso. É ter a oportunidade de debater com colegas sobre as questões mais relevantes que dizem respeito ao bem estar do homem e da natureza, respeitando os limites da vida. É mais que isso. É olhar pra frente e perceber que estamos no caminho certo, mesmo que os descaminhos da vida nos levem pra outras trincheiras.
domingo, 16 de maio de 2010
Luto
O incêndio ocorrido ontem (15/05) na coleção de serpentes, aranhas e escorpiões no Instituto Butantã,
Cerca de 80 mil espécimes foram totalmente incinerados, interrompendo um ciclo iniciado pelo Dr. Vital Brazil e colaboradores, continuado atualmente por centenas de graduandos e pós graduandos que utilizavam o local para coleta de dados. Sim, dados esses que a sociedade como um todo era beneficiada, pois as pesquisas realizadas pelos leais cientistas das “causas justas” sempre buscavam encontrar respostas aos problemas mais reais que a humanidade enfrenta.
Não tenho real conhecimento de causa, mas creio que a grande maioria das coleções, encerradas nas diversas instituições de ensino e pesquisa do nosso país, enfrentam grave problema estrutural. Pequenos espaços, falta de material de consumo e humano, e o principal: falta de segurança.
Chato ter que ouvir uma noticia dessas, justamente por não haver um planejamento prévio com foco na segurança do nosso patrimônio, e das pessoas, é claro. Mais uma vez o Brasil vai figurar lá fora como um país que não tem zelo pela biodiversidade, mesmo gritando aos quatro ventos que ela é nossa e ninguém tasca.
Estou envergonhado por nossos representantes políticos, não por termos uma das maiores diversidades do mundo. Culpa é termos uma das maiores diversidade do planeta? Que pergunta mais cruel que me abateu agora.
Assim, me pergunto com muito medo, como é, ou será, a administração de uma das maiores faunas que temos (em proporções mundiais). Eu falo da fauna de peixes que segundo Lévêque et al., (2008) somente na região Neotropical, existem cerca de 4 mil espécies, e se levarmos em consideração que a área do Brasil é aproximadamente 50% dela, vamos ai com 2 mil, o que corrobora com Buckup et al., (2007) que afirmam ter 2.587.
Imaginei, e ao mesmo tempo deletei da memória, esse incêndio acontecendo em coleções de peixes, com tantos holótipos (exemplar oficial da espécie) de espécies que já foram pras cucuias. E mais, com tantos empreendimentos hidrelétricos atualmente em vista que certamente extinguirão outras tantas. Ou seja, elas só iriam existir numa coleção, o que infelizmente ocorreu no Butantã. Isso sim é motivo de luto.
Literatura citada:
Buckup, P.A.; Menezes, N.A. & Ghazzi, M.S. 2007. Catálogo das espécies de peixes de água doce do Brasil. MNRJ, Rio de Janeiro, RJ. 195pp.
Lévêque, C; Oberdorff, T; Paugy, D.; Stiassny, M.L.J.; Tedesco, P.A. 2008. Global diversity of fish (Pisces) in freswater. Hydrobiol.,595:545-567.
O Delta do Parnaíba é destaque em matéria de 'O Estado de S. Paulo'
Edição de Fábio Carvalho.
Revoadas de guarás, praias exclusivas e uma refeição à base de [br]caranguejos permeiam a navegação pelo Delta. Vistas no mapa, as mais de 80 ilhas do Delta do Parnaíba, no litoral do Piauí e do Maranhão, parecem pecinhas espalhadas de um quebra-cabeça. Mas é percorrendo esse labirinto de igarapés que se conhece de perto a rara beleza de suas dunas, manguezais, lagoas de água doce e praias desertas. Rara porque é um dos três deltas do mundo que deságuam em mar aberto - como ele, somente o Nilo, na África, e o Mekong, na Ásia.
Partindo de Tutoia, no Maranhão, ônibus de linha levam até Parnaíba, já no Piauí. Trata-se da maior cidade da região e a segunda maior do Estado, atrás apenas de Teresina. Um passeio interessante é pelo Porto das Barcas (foto), região de casarões históricos dos século 18 e 19 às margens do Rio Igaraçu, repleto de restaurantes, bares e lojas de artesanato. Para relaxar, a pedida é a Praia da Pedra do Sal, distante 15 quilômetros do centro e com acesso fácil por ônibus de linha.
A praia é famosa por sua geografia peculiar. Separada ao meio por um paredão de rochas que avança sobre o mar, tem, de um lado, águas tranquilas, repletas de barcos de pescadores. Do outro, as ondas batem forte, ideais para o surfe. Se tiver mais tempo, experimente o roteiro de jipe que parte da Pedra do Sal rumo ao litoral oeste.
A verdadeira estrela, no entanto, é mesmo o Delta - há passeios diários para a região na alta temporada, mas na baixa há lanchas e catamarãs apenas aos sábados. Ilha Grande de Santa Isabel, a maior delas, é também o ponto de partida das voadeiras. A cada virada nas curvas dos igarapés, uma paisagem nova se descortina. Mas é preciso ficar atento para perceber os detalhes.
Camuflados entre os troncos retorcidos das árvores do manguezal, jacarés permanecem imóveis. Macacos-prego brincam de se esconder nos galhos aéreos. E surgem tamanduás, lagartos, capivaras e cobras, que o barqueiro experiente vê de longe. Os caranguejos-açu se destacam pelo vermelho da carapaça.
No fim da tarde, revoadas de guarás tingem o céu de vermelho em direção à Ilha do Caju - a cor da plumagem se deve a uma alimentação à base dos caranguejos-açu. As aves, típicas da região, estão quase extintas. Pelo rio, que separa Piauí e Maranhão, chalanas deslizam vagarosamente enquanto pescadores seguem em barquinhos lotados de peixes e crustáceos.
Algumas ilhas são habitadas, outras, desertas, cobertas por dunas gigantes, como na Baía do Feijão Bravo. Se fechar os olhos, é possível ouvir o som do vento. De março a maio, formam-se lagoas de água doce entre as dunas. Atravessar essas enormes montanhas de areia leva a uma praia extensa e exclusiva.
Iguaria. Se a fome bater, peça ao barqueiro para fazer uma parada estratégica na Ilha das Canárias e experimente o tal do caranguejo-açu. No Restaurante Recanto dos Pássaros a travessa, chamada de corda, vem com quatro grandes crustáceos, acompanhada por farofa e vinagrete, por R$ 8. Com um martelo de madeira em mãos, vá saboreando a carne branca e macia sem pressa.
Para acompanhar, peça a cajuína, bebida doce que é o símbolo do Piauí. Já com o estômago forrado, aproveite para fazer a digestão tirando uma boa soneca nas redes espalhadas. Depois, curta a paisagem: do alto de uma casa em uma das árvores do restaurante a vista é incrível. O passeio dura em torno de 4 horas.
domingo, 2 de maio de 2010
A sobrevivência da cultura crítica no Brasil
Boa leitura.
Por Gabriela Moncau (*)
O que é mais preocupante é a questão da opinião no Brasil. Porque copiamos todo o modelo americano de vida, o consumo, o livre mercado, mas uma coisa que não pegamos, o direito pleno de se expressar.
A frase é de André Dahmer, 35, consagrado desenhista da nova geração dos quadrinistas brasileiros, em entrevista à Caros Amigos na edição de abril. O carioca é autor das tirinhas dos Malvados, que, com um traço simples, fazem uma feroz crítica ao cotidiano da sociedade capitalista, ironizando principalmente o consumismo e o individualismo. Além dos dois personagens dos Malvados, o cartunista ficou famoso com séries de tirinhas como “Cidade do medo”, sobre violência, “Apóstolos, a série”, que narra a história de Jesus fazendo críticas à Igreja Católica e Emir Saad, o ditador sádico e egocêntrico do reino Ziniguistão.
Em seu blog, a seção sobre o autor se limita a descrições como “nenhuma cárie no dente, nenhum osso quebrado. Sobreviveu a um afogamento em Ipanema. Gosta de números, odeia aviões”. Paulo Lins, escritor de 51 anos, também do Rio de Janeiro, do bairro de Santa Teresa. Iniciou na literatura como poeta, na década de 1990 se dedicou à pesquisa antropológica sobre a criminalidade e as classes populares, publicando em 1997 sua grande obra que levou o nome do violento bairro da periferia carioca em que viveu, a hoje famosa – por conta da versão cinematográfica da obra - Cidade de Deus.
Atualmente, além de estar terminando o roteiro do filme Faroeste Caboclo, baseado na música de Renato Russo, trabalha no seu novo livro, Desde que o samba é samba é assim, romance sobre uma professora universitária de classe média baixa que pesquisa a história do samba. Cada um a seu modo, representa importantes expressões culturais que escancaram a realidade brasileira.
Dahmer, com seus ácidos quadrinhos, e Lins, representando a literatura de alguém que veio de dentro da periferia, conseguiram achar brechas dentro da sólida cultura hegemônica justamente para criticá-la. O cartunista, porém, chama a atenção para a capacidade de incorporação da sociedade do consumo: “A propaganda sobrevive com uma agilidade enorme, transforma ações inicialmente contra ela a seu favor. A propaganda sabe que consumidor é que nem barata, você vai inventando um veneno mais forte para matar e elas vão se adaptando”.
Mas, afirma que se garante: “eu não tenho problema de recusar trabalho não, confio muito no sistema que eu montei para viver de maneira mais independente”, conta Dahmer. Para Paulo Lins, que também recebeu a redação da Caros Amigos na sua casa esse mês, um dos motivos pelos quais justamente conseguiu seguir uma linha alternativa ou contra-hegemônica em seu trabalho é o interesse que o público tem pela tema da violência urbana. “Uns três anos antes de lançar o livro [Cidade de Deus], teve um político, Moreira Franco, que disse que iria acabar com a violência em seis meses, ele se elegeu assim. Imagine a pressão. Então, quando sai um livro desse com uma visão interna, de uma pessoa que viveu, que morou na favela, como eu, o interesse era quase natural”, relata.
Mas não é todo mundo que consegue sobreviver em meio ao mercado cultural brasileiro, controlado pelos mesmos que pautam não só a política como o modelo econômico que a sustenta: as grandes corporações, nacionais e transnacionais. Há muito tempo que a arte perdeu sua viabilidade financeira. Fazer arte não dá lucro. Mas, numa sociedade pautada pela divisão do trabalho, como podem sobreviver os trabalhadores da arte sem se submeterem aos desmandos de um sistema interessado em tratar a cultura como mais uma mercadoria? O Ministro da Cultura Juca Ferreira acredita que “a cultura brasileira não precisa de uma política de preservação”. Mesmo que na entrevista também publicada neste mês pela Caros Amigos ele tenha se pautado exatamente por proposições protecionistas ao cinema mais adiante, suponhamos que de fato a cultura brasileira se garanta de influências estrangeiras. Não é esse o debate.
A questão é como garantir a sobrevivência da cultura sem que ela tenha que se enquadrar à lógica do mercado, de maneira a garantir sua produção e difusão entre a população brasileira. Por mais que os discípulos de Margareth Thatcher, entrincheirados na situação e na oposição, contestem, no âmbito do capitalismo não parece haver outra alternativa que não a intervenção estatal através de políticas públicas. O Ministério da Cultura tem tomado tímidas medidas quanto a isso.
O Vale Cultura, por exemplo, que funcionará como um Vale Refeição, um cartão magnético que será disponibilizado para que o trabalhador reverta R$ 50 em livro, CD, espetáculos, museus ou outras atividades culturais, parece ser algo interessante, apesar de não ter ainda previsão pra ser posto em prática. O próprio ministro, porém, revela que achou melhor não aumentar o valor do vale para que o processo burocrático para sua aprovação não seja retomado: “O presidente Lula me autorizou a dizer que acha que R$50 é pouco e se o Congresso aprovar uma ampliação desse recurso para R$ 100 que ele sancionará essa lei com alegria. Eu disse a ele ‘não vamos propor rever esse total, se não teríamos que começar tudo de novo’”, afirma.
Como apontou a edição especial da Caros sobre a Direita Brasileira, quem decide o que é cultura hoje no Brasil é a iniciativa privada. E pior, o faz através de isenção fiscal, com dinheiro público, prática consagrada pela criticadíssima Lei Rouanet. Dos 1,2 bilhão de reais investidos em cultura pelo poder público brasileiro, 90% são oriundos de renúncia fiscal. Juca Ferreira, na entrevista, aponta seus limites e debate de que maneira essa lógica pode ser superada. Enquanto ela não é, a crítica de arte e professora aposentada da Faculdade de Letras da USP Iná Camargo Costa define a disputa de recursos de incentivo fiscal como “briga de cachorro grande disputando dinheiro do Estado para fins de acumulação”.
Assim, os cachorros grandes para os quais o Estado tem transferido a responsabilidade de produção cultural, com a evidente intenção de oferecer eventos para o seu público consumidor, não raras vezes promoverão atividades culturais cujo acesso será para quem tenha no bolso bem mais que um Vale Cultura. Como Dahmer, Lins e tantos outros evidenciam, porém, a barreira da cultura hegemônica não é inquebrável. Afinal, como define Theodor Adorno, “a cultura, como aquilo que aponta para além do sistema de conservação da espécie, inclui um momento de crítica a todo o existente, a todas as instituições”.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Maior aquífero do mundo
Especial para A CRÍTICA
Além da maior biodiversidade, a maior floresta tropical úmida e o maior depósito mineral do planeta, a Amazônia deteria também o maior manancial de água subterrânea do mundo. A descoberta do aquífero Alter do Chão, localizado entre os estados do Pará, Amazonas e Amapá, foi anunciada há duas semanas por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela vale, no mundo de hoje, mais que a descoberta de um poço de petróleo.
“Fizemos um cálculo com dados preeliminares e estimamos que a reserva de água mínima desse aquífero seja de cerca de 86 mil quilômetros cúbicos de água. O volume daria para abastecer toda a população mundial por 400 anos”, afirmou um dos coordenadores da pesquisa pela UFPA e doutor em geologia, Milton Matta.
Apesar de não ser tão extenso em termos de área, o novo aquífero Alter do Chão possui quase o dobro do volume do aquífero Guarani, localizado entre o sul do Brasil, Argentina e Uruguai, e, até então, considerado por vários pesquisadores o maior do mundo. “O Guarani tem o volume de calculado em torno de 45 mil quilômetros cúbicos de água, quase a metade do volume do Alter do Chão”.
A importância estratégica da nova descoberta para o País é enorme, segundo o coordenador da pesquisa. “Enquanto o Gurani fica em solo interfronteiriço, o que dificulta sua gestão, o aquífero de Alter do Chão está totalmente em solo brasileiro. Além disso, o primeiro tem uma vulnerabilidade ambiental maior, ou seja, pode ser mais facilmente contaminado devido ao seu conjunto de rochas vulcânicas fraturadas. O Alter do Chão está mais protegido por camadas de argila”.
O especialista afirma ainda que enquanto o Guarani possui águas mais profundas, o que exigem perfurações de poços acima de mil metros, no Alter do Chão a água está mais próxima, acima de 300 metros, tornando o processo de perfuração mais barato. “Imagine o benefício para um conjunto de cidades da Amazônia que hoje estão sendo abastecidas com água superficial, que é muito mais cara e também não tão límpida quanto a subterrânea”.
Pesquisa continua
Além do professor Milton Antonio Matta, a pesquisa é coordenada pelos professores Francisco Matos de Abreu, André Montenegro Duarte, Mário Ramos Ribeiro, da (UFPA), com a participação do professor Itabaraci Cavalcante (UFC). O estudo se encontra em sua fase preliminar e necessita ter continuidade, o que o grupo tenta viabilizar por meio de parcerias que estão sendo buscadas em diferentes instituições.
“Precisamos de financiamento para dar continuidade ao trabalho. Para o aquífero do Guarani, que já está bastante estudado, foram gastos US$ 30 mi. Queremos apenas US$ 5 mi para fazer o estudo completo de uma descoberta tão estratégica para o País e o mundo”, afirmou Matta.
O especialista critica a falta de investimentos para pesquisas no Norte do País. “Somos a região que mais tem o que se estudar, no entanto, quando elaboramos um projeto como esse e vamos captanear recursos, dizem que não é prioridade, pois o Nordeste e o Sudeste sofrem mais com a falta d’água. É um contrassenso”.
domingo, 25 de abril de 2010
Avisa que estão matando o mindu!
A crônica abaixo se refere à um igarapé (riacho) que passa de frente à minha casa, no bairro Aleixo, aqui em Manaus... Vale a pena ler, pois se trata de uma realidade aqui e em qualquer canto do nosso imenso Brasil.
Quinta feira, 22 de abril. Oito horas da manhã. Toca o telefone. Atendo. Ligação interurbana. É de Manaus. A voz de alguém que não conheço geme, angustiada, do outro lado da linha, pedindo socorro:
- Estou agorinha presenciando um assassinato daqui da janela da minha casa, no Parque Dez!! Eu, minha mulher e minha netinha!!!
Alarmado, aconselho que chamem a polícia. Justifico minha omissão:
- Moro no Rio de Janeiro. Não posso fazer nada.
Depois, continuou descrevendo, lance por lance, o que via através da janela indiscreta. Narrativa tensa, cheia de suspense, como num filme de Hitchcock. Transcrevo o que ouvi, na esperança de que os criminosos sejam identificados e punidos. Duvido, no entanto, que a violência contra desconhecidos, hoje tão banalizada no Brasil, possa comover alguém.
Afinal, quem é que está preocupado em saber se um tal de Mindu está morrendo num bairro de Manaus? Azar o dele! Se a vítima fosse uma celebridade, vivesse na Islândia, se chamasse Eyjafjallajoekull e cuspisse fogo, vapor e fumaça preta, zoneando assim o tráfego aéreo, o mundo inteiro se agitaria. Mas Mindu, o inofensivo? Quem é Mindu no jogo do bicho? Ninguém sabe.
Parque Zero
Ninguém, vírgula! Os manauaras sabem. Conhecemos o Mindu, o maior igarapé da área urbana de Manaus. Ele nasce numa floresta próximo ao Jardim Botânico Municipal e atravessa toda a zona leste da cidade, num trajeto de mais de 20 quilômetros, correndo por um leito pedregoso. Vai se juntando a outros igarapés até desaguar no Rio Negro. Durante décadas, abrigou muitas espécies diferentes de pássaros, insetos, mamíferos, répteis, tartarugas e plantas e deu água fresca aos abundantes buritizais que, em troca, lhe proporcionavam sombra.
Sombra e água fresca: o Mindu era isso. Era quase um paraíso. Em uma de suas margens, terminava a cidade, em outra começava a floresta. De um lado, o bicho urbanóide. De outro, o bicho do mato. Foi ali, naquela região de fronteira, que suas águas foram canalizadas, em 1938, para formar uma piscina natural. O balneário, onde aos domingos as famílias faziam piquenique, foi batizado como ‘Parque Dez de Novembro’.
Hoje, poucos sabem as razões do nome. Era uma homenagem à data do golpe. Um ano antes, 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional, suprimiu as liberdades democráticas, instaurou censura férrea e prendeu e torturou os opositores. Dessa forma, o interventor no Amazonas, Álvaro Maia, puxava o saco do criador do Estado Novo.
Durante algum tempo, o Parque Dez e a boate Acapulco foram os últimos bastiões urbanos. Dali, saía uma estradinha de terra, carroçável, conhecida como V-8 (atual Efigênio Sales), acompanhando o sentido do igarapé, ao longo do qual se situavam pequenas chácaras transformadas em balneários ou ‘banhos’, como a gente chamava. Havia, entre tantos outros, o ‘Pecos Bill’, o ‘Tucunaré’ e ‘As Pedreiras’, da dona Dirce Ramos, viúva rica, que a repassou aos padres redentoristas.
Suas águas, onde meu irmão de dois anos morreu afogado, eram límpidas, cristalinas e potáveis. Mas depois do golpe militar de 1964, a censura impediu criticas ao modelo econômico dominante, que se lixava para o meio ambiente. Foi quando a Companhia Habitacional do Amazonas (COHABAM) construiu com recursos federais o conjunto residencial Castelo Branco – nome dado em homenagem ao marechal ditador. Manaus tinha, então, uns 300 mil habitantes. Aí começou a lenta agonia do Mindu.
Se o Mindu falasse
De lá para cá, a cidade cresceu. A mata foi devastada. Dezenas de novos bairros surgiram sem uma política ambiental e de saneamento básico. As residências passaram a despejar seus dejetos no leito do igarapé, transformando-o num fétido esgoto a céu aberto. A feira do bairro Amazonino Mendes joga nele todo seu lixo. A criação, em 1992, do Parque Municipal do Mindu, como área de interesse ecológico, foi uma tentativa de preservar o último refúgio verde do bairro. Mas o Mindu, “um rio que passou em minha vida”, já estava ferido de morte.
Para tentar salvá-lo, o então prefeito de Manaus Serafim Correa (PSB) aprovou, em 2007, o Projeto de Revitalização do Mindu, com a criação de estações de tratamento de esgoto e de um corredor ecológico. O objetivo era, de um lado, evitar que as suas nascentes fossem ocupadas, e de outro, transformar em área de lazer o espaço do parque. Pouco antes de sair da Prefeitura, garantiu, em 2008, um contrato de 128 milhões de reais, para realizar a obra pelo PAC- Plano de Aceleração do Crescimento.
No entanto, o atual prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB - vixe, vixe!) engavetou o corredor ecológico e decidiu substituí-lo pela construção de uma pista às margens do Mindu, seguindo o exemplo da Marginal do Tietê, em São Paulo. O Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça, tentando recuperar o projeto original e, com ele, uma sobrevida para o Mindu. Até hoje, ninguém sabe o destino dos recursos, porque “desde que assumiu, Amazonino não divulga os gastos da Prefeitura”.
De qualquer forma, o crime que o leitor viu, de sua janela, ao lado da esposa e da netinha, quando se celebrava o Dia Mundial da Terra, dá a dimensão de que a estupidez humana não tem limites. Ele viu tratores, caminhões e caçambas trafegando pelas ciclovias, pelos gramados e pelo calçadão, que agora servem de lixeira para entulhos das obras, com muita sujeira, lama, poeira e lixo. Parece uma praça de guerra. Tudo em nome da especulação imobiliária e do lucro rápido.
Com 66 anos, aposentado, a testemunha do crime não se conforma com a agressão ao Passeio do Mindu, onde podia andar e se divertir com a neta. Ele fotografou o processo criminoso: são mais de duzentas fotos nos últimos anos. O Mindu, hoje, como Itabira, é apenas um retrato na parede. Mas como dói! Nós e nossos filhos pagaremos caro por esse crime, se o poeta Thiago de Mello tiver razão, quando diz que não é só quem brinca com fogo que se queima. Quem polui a água, acaba se afogando no lodo, na cinza e na merda.
Mindu´u em língua guarani, significa mastigar, comer devagar, ruminar. O Mindu, em sua agonia, está ruminando. O quê? A reposta é dada pelo poema abaixo de Javier Heraud (1942-1963), o poeta-guerrilheiro peruano, que morreu aos vinte anos, baleado numa balsa no rio Madre de Dios, afluente do Beni, que deságua no nosso rio Madeira. Dois anos antes de morrer, aos 18 anos, publicou seu primeiro livro – El rio. Reproduzo aqui para os leitores um pequeno trecho do poema.
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Fonte: http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=858