Pôr-do-sol na Rebio Trombetas
Acima: Podocnemis unifilis - "Tracajá"; abaixo: ninho de tracajá
Após um longo período sem internet em "home, sweet home..." (e isso foi mais de um mês), estou de volta com minhas voltas pela Amazônia. O Programa de Pós Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior - PPG-BADPI - do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, tem em sua grade curricular dois cursos de campo que visam colocar o mestrando ou doutorando em contato direto com a teoria que só vemos nos livros e demais publicações.
Nesse 1 ano e 8 meses de vivência em terras amazônidas, tive oportunidade de participar de duas disciplinas de campo. A primeira fiz no ano passado e se chama "Ecologia de Áreas Alagáveis" e contou com um timaço de doutores capitaneados pelo Dr. Jansen Zuanon. Já nesse ano, fomos à Reserva Biológica do rio Trombetas, entender como acontecem as pesquisas com quelônios da Amazônia na disciplina "Pesquisa, conservação e manejo de Quelônios" de responsabilidade do Dr. Richard Vogt. Essa reserva, que é um verdadeiro santuário de bichos, fica na bacia do rio Trombetas, um rio de águas claras que drena áreas do norte do estado do Pará e possui uma rica biodiversidade, como não poderia deixar de ser no bioma amazônico.
Tudo começou no dia 26 de agosto passado, quando embarcamos no barco Enigma rumo ao estado do Pará. Após contratempos com o gerador do mesmo, saímos entre o dia 27 e 28, navegando quatro longos dias pelo rio Amazonas, até chegar à Reserva Biológica do rio Trombetas - Rebio Trombetas. O objetivo do curso é, sobretudo entender a biologia de cerca de 10 espécies de tartarugas amazônicas, com foco principal em espécies como Podocnemis unifilis (Tracajá), Podocnemis sextuberculata (Iaçá), Podocnemis expansa (Tartaruga-da-Amazônia) e Peltocephalus dumeriliana (cabeçudo).
A Rebio Trombetas existe há mais de 30 anos e tem como finalidade a proteção integral do ecossistema, com estudos e acompanhamento de espécies de quelônios, castanhais, peixes e aves.
Para coletar esses os quelônios, são usadas redes de emalhar com três diferentes tamanhos de malhas. É preciso agilidade para tirar o bicho da rede em pouco tempo, pois se houver demora na despesca eles podem morrer afogados e isso é o que os pesquisadores não querem. Nesse curso também tive a oportunidade de ver que atualmente são empregadas algumas novas tecnologias para monitoramento de espécies, com rádio-transmissores. Isso tem se tornado bastante útil quando os pesquisadores precisam entender os padrões de distribuição ou deslocamento desses bichos numa dada área. Também pude aprender como fazer a biometria desses bichos, que requerem diferentes técnicas para tanto. Em alguns deles, foi preciso tirar uma amostra de sangue para diversas análises.
Mais o ponto principal, no meu ponto de vista, foi entender como ocorre a reprodução desses bichos. Primeiro saber que esses bichos estão entre os mais antigos do mundo e que vivem por décadas a fio; depois, conhecer como as fêmeas de diversas espécies escolhem pontos ideais nas praias para desovar e enterrar seus ovos. O mais legal foi entender como a temperatura no local do ninho influencia diretamente na determinação do sexo nas ninhadas: a partir de uma dada temperatura, só nascerão indivíduos machos ou fêmeas, dependendo da espécie. O sexo determinado pela temperatura (SDT) é um assunto que tem sido amplamente estudado desde quando foi descoberto (Bull & Vogt, 1979), pois durante o desenvolvimento embrionário, a temperatura pode influenciar também várias outras características nos filhotes de répteis, além do sexo.
Só o fato de estar com estudiosos do assunto (inclusive gringos...) num lugar tão rico e belo já valeu a experiência. Vi em mais essa oportunidade, que podemos avançar “aos saltos” na pesquisa no Brasil e principalmente no nordeste. Como diz Joseph Climber “ a vida... a vida é uma caixinha de surpresas”. Só cabe à nós investigarmos a fundo para saber que é mais que isso, é a beleza que pode aparecer descortinada sob nossos olhos. Cabe à nós entendê-la. Entenda-a, não é tão difícil assim.
Vida difícil, Chico, essa de biólogo!!! Abraços
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