Depois de muito tempo sem passear pelo blogue, estou de volta. E em vez de contar peripécias minhas pela Amazônia, vou relatar um pouco de minha ida à capital paulista entre os dias 17 e 21 de agosto. Clique nas imagens para ampliar; as legendas com os nomes de cada espécie estarão no final do texto juntamente com algumas informações, seguindo a ordem aqui apresentadas.
A visita naquele local se deu por motivos de trabalho, pois lá existem várias fontes de pesquisa como por exemplo o Museu de Zoologia da Usp, no Ipiranga, onde fui analisar a fauna de peixes que trabalho e conversar com pessoas que já trabalham nessa área há um bom tempo.
A minha pesquisa gira em torno da taxonomia (identificação de espécies) e distribuição geográfica das espécies de peixes da familia Anostomidae, mais conhecidos popularmente como "piaus" (no norte e nordeste) "piavas" (no sudeste) e "aracus" (na Amazônia). Como se percebe são bichos amplamente distribuídos em toda a América do Sul, mais precisamente de Trinidad até a Argentina.
O nosso trabalho é com as espécies desse grupo que ocorrem numa bacia hidrográfica do estado do Pará, a do rio Tapajós. É um dos grandes rios amazônicos, sendo o quinto maior tributário do rio Amazonas e segundo os estudiosos é um dos lugares com maior biodiversidade de peixes e outros grupos animais e vegetais. Só pra se ter uma noção, esse grupo tem por lá cerca de 25 espécies, uma mais interessante que a outra.
Essas formas viventes variam em tamanho, forma e padrão de coloração, que aliás, é umas das características que definem as diferentes espécies dessa família. São importantes fontes de proteína animal para diversas populações em toda sua área de ocorrência e também na aquariofilia, onde os bichos com coloração mais exuberantes são criados por diversas pessoas no mundo todo. Algumas espécies alcançam cerca de meio metro e já estão sendo cultivadas em alguns centros de piscicultura.
No entanto, uma característica bastante relevante inerente ao grupo, é a sua função ecológica no ambiente aquático. Como elas são onívoras (consomem alimentos de origem vegetal e animal), com tendência à herbivoria, elas são importantes dispersores de frutos e sementes. Algumas dessas espécies habitam diversos ambientes aquáticos, como lagos, canais dos rios, riachos e corredeiras. Nesse último caso, elas merecem uma total atenção pelo risco de extinção por conta das construções de inúmeros empreendimentos hidrelétricos. Várias espécies desses locais não são ainda conhecidas pela ciência e como tais áreas são usadas para aproveitamento hidrelétrico o destino de muitas delas é a extinção.
Bom, mais voltando ao assunto São Paulo, fui ver especificamente seis espécies que não estão na coleção do Inpa e ocorrem naquela área. Assim vou completar as análises, redescrevendo cada uma delas e fazendo um mapa de distribuição para cada uma. Essa é a contribuição que pretendo dar com o meu trabalho, para que assim as políticas públicas ambientais sejam melhor balisadas e as melhores decisões possam ser tomadas em relação ao grupo e ao seu hábitat.
Tive o prazer de conhecer pessoas naquela cidade que não estão escritas no gibi... estudantes de doutorado que comem o pão que o diabo amassou mais que mesmo assim não perdem o bom humor com algumas situações inerentes às cidades grandes do nosso país. Também, cientistas renomados e bastante experientes que levam nas costas a administração do Museu de Zoologia da Usp. O plano atual do Muzusp é o de oferecer pós graduação desvinculado da Usp, assim como ocorre em outros museus pelo mundo afora.
É isso que a Amazônia tem oferecido. E é por isso que tenho lutado com todas as forças para divulgar tudo isso aos meus conhecidos que acham que não têm oportunidade na vida depois de formado na faculdade. Tudo não passa de falta de informação e de busca dos sonhos. Espero estar sendo sensível o suficiente para que algumas pessoas possam também lutar e mudar a realidade da nossa região, que infelizmente carece de profissionais em várias áreas.
Relação das imagens:
1- Estante com algumas espécies no salão de visitas no Muzusp, com destaque para o pirarucu (Arapaima gigas) o maior peixe amazônico, considerado o "bacalhau brasileiro"
2 - Leporinus sextriatus, como o próprio nome sugere, possui seis listras longitidinais ao longo do corpo; grande potencial na aquariofilia, não se conhece exemplares maiores que 15 cm;
3 - Schizodon vittatus, (aracu ou piau de vara) alcança cerca de 40 cm, importante fonte de proteína para aa população ribeirinha e local;
4 - Synaptolaemus cingulatus, vive em ambientes de corredeiras, com adaptações morfológicas para tanto; possui a boca voltada para cima e explora rochas submersas para se alimentar.
Chico, o negócio é o seguinte: parabéns pelo curso de mestrado e pelos conhecimentos construídos. Defendo a preservação sustentável dos peixes e tudo o mais. Mas nesse tempo todo aí na região amazônica já aprendeu a fazer um peixinho frito de primeira? Hehehe.
ResponderExcluirNão resisti, viu?
Um abraço.
Jair Feitosa.
Ah, vou enviar emeio que recebi sobre ovos de tartarugas. É chocante.
ResponderExcluirJair Feitosa.
Chico, rapaz, o texto está didático, as fotos estão multicolores e visualmente bonitas, no entanto, desculpe-me a ousadia, mas esses peixes só me recordam um tira-gosto.
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