segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

À Elizabeth Bishop

E o dia então chorou.
Tanto quanto eu nunca o fiz,
tanto que eu mesmo nunca vi.

Preciso de refúgio, uma sombra
que me afaste das nuvens pesadas.
Eu preciso de um cigarro pra acender a minha alma.

A água então escorreu em cascatas brancas
do zinco até o chão, molhando o sim e o não...
Entre cimento, tijolos e a escuridão.

Então não pude me conter, apesar de tanto querer.
E ela me maltrata, é má, maluca,
vem e vai quando quer, entra e sai quando lhe der.

Eu que gosto tanto da água e sua lama
queria a secura do corpo em chamas.
Creio não ser mais anfíbio. Talvez a seca.

Eu queria o sol nesse momento,
brilhando forte qual diamante no rio.
Só que não passo de um dependente, um girassol.

E de colher em colher a parede e o homem
enchem os olhos de imaginação.
Entre roncos, motores e construção
encho meus rios com lágrima, sofrimento e solidão.

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