sábado, 20 de novembro de 2010

Açude Mário Bezerra



É com muita nostalgia que lembro do Açude Mário Bezerra, na zona rural do município de Floriano. E hoje, li em http://www.florpi.com.br/ que o mesmo encontra-se totalmente coberto por plantas aquáticas, conhecidas popularmente como aguapés. É realmente uma pena ver algumas imagens do mesmo naquele estado, que poderia ser evitado com a prevenção pelos órgãos responsáveis pelo ambiente.
Essas plantas são oportunistas e aguardam um momento certo para "explodir" sua população. É uma espécie de lei na natureza de oferta e procura, pois se o ambiente oferece recursos suficientes para um grande crescimento populacional, qualquer espécie vai investir ao máximo em sua reprodução. Espécies como Eichornia crassipes resistem muito bem em ambientes altamente eutrofizados (que possuem grande concentração de poluentes) o que poderia ser usado em favor da qualidade da água, pois elas retém (acumulam) esse excesso de nutrientes; mas ao contrário, a grande concentração dessas plantas é um indicativo de que a saúde do corpo d'água em questão anda muito mal das pernas.
Os aguapés indicam debilidade do ecossistema porque essas plantas suportam também grande concentração de metais pesados, que possuem propriedades cumulativas e passam de um nivel trófico mais baixo para o mais alto. Em outras palavras, um peixe que se alimenta dessas plantas, incorpora metais no seu organismo; o homem, por sua vez, se alimenta desse peixe e acaba biomagnificando (acumulando) os metais, que não possuem funções no organismo mais que o mesmo não consegue eliminá-los. Exemplos mais comuns de metais pesados: mercúrio, cobre e chumbo, que sabidamente provocam diversas alterações fisiológicas em seres humanos, inclusive neurológicas.
Esteves (1998) aborda esse problema e relata algumas experiências sobre como enfrentá-los. Já tentaram coisas como garras ou grades para retirar mecanicamente as plantas e herbicidas, mais os resultados não foram satisfatórios, pois nesses dois casos as plantas cresciam no próximo período chuvoso. Nesse último, porém, o caso era mais grave, pois herbicida é um veneno que além de matar as plantas, intoxicam o ambiente lacustre e suas espécies nativas, tanto da fauna quanto da flora.
Entretanto, não é tão dificil conseguir conter o crescimento populacional dos aguapés se forem tomadas algumas medidas de prevenção. É imprescindível que qualquer tipo de efluente (esgotos) não sejam lançados no açude; também, podem ser usadas algumas espécies de peixes para controlar a população por meio da predação. Espécies herbívoras como as carpas (Cyprinus carpio), tilápias (Oreochromis niloticus) e as nativas espécies de piaus (Leporinus spp) são vorazes podadoras de algas e servem como controladores biológicos nesse caso.
Por isso, não seria uma má ideia se pensar num melhor manejo do açude. Seriam contemplados dois importantes aspectos aqui: uma melhor saúde no ambiente (que se reflete em saúde do homem) e o cultivo de alimentos, como o peixe. No entanto, várias investigações precisam ser feitas no açude, como por exemplo, a produtividade primária, levantamentos taxonômicos em todos os grupos de seres vivos e ecologia das espécies nativas. Penso que o pessoal que estuda biologia em nossa cidade poderia dar uma grande contribuição à sociedade, visto que é ela quem banca todos os gastos nas nossas universidades públicas. Falta muita coisa para ser feita em Floriano, em todas as áreas do conhecimento da nossa ciência.

Bibliografia citada:
Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de limnologia. 2ed., Interciência, Rio de Janeiro, RJ. 602pp.

Mais uma, menos uma... que diferença faz?


Contruir uma barragem é sim uma coisa séria. Se não fosse, não seria tão burocrático e não afetaria diretamente (e negativamente) uma parcela significante de qualquer localidade. Muito tem se falado a respeito dos prós e contras de se construir uma usina que tem sua produção atrelada à força das águas, mas uma coisa é certa: em nosso país, quem manda mesmo são os interesses por traz.
Vendo assim de longe parece que eu sou mais um com discurso afiado contra tais empreendimentos. Enganam-se. Sou sim totalmente contra diversas burrices que historicamente acontecem. Mais ainda quando todo o dinheiro é indevidamente desviado pra contas daqueles que se dizem representantes dos interesses do povo. Fico indignado, por exemplo, em saber que muita coisa poderia ser evitada com um planejamento mais sério e com mais esmero. Vou dar só dois exemplos então:
1 - Por que os representantes teimam em criar hidrelétricas em bacias que nunca foram tão impactadas quanto serão após a contrução de uma UHE? O caso de Belo Monte, no rio Xingu, é emblemático. Vários são os interesses por traz dos expostos que delatam a verdadeira intensão dos empreendedores. Não cabe aqui, nem vale a pena citá-los. O que vale a pena lembrar é que depois de feito o estrago, nada mais será como antes. Abrem-se precedentes para a total destruição do lugar que as pessoas esquecem se tratar do nosso lar, o nosso hábitat.
2 - Como, e porque cargas d'água, se constroem hidrelétricas em locais onde sequer terminaram uma que já existe? (Digo terminar no sentido de entrega da obra no prazo estipulado pelos documentos que a regem, com todas as exigências cumpridas) Boa Esperança, no Parnaíba é outro emblema dessa aberração que toma conta do dia-a-dia do brasileiro: a corrupção.
A idéia mais inteligente, no meu pornto de vista, seria contruir barragens onde já existe o impacto causado por uma outra já instalada. Já que fomos tão burros em utilizar esse sistema para geração de energia elétrica, que os impactos sejam causados em ecossistemas já conhecidos do ponto de vista ecológico. Torço pra que as usinas no Parnaíba não sejam mais alguns elefantes brancos, como muitos no país. Alea jacta est.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Todas as "Mayaras" são o ponto de interrogação?

Será uma "Mayara" esmagando suas únicas sementes?
Tomara que sim.

Ouço Zé Ramalho nesse momento, um dos maiores ícones da cultura nordestina e brasileira, perguntando e respondendo coisas como “(...) pra que serve o novo? para enfim envelhecer! (...)” como se todos os seres humanos fossem um único “bicho”, destituídos de preconceitos bobos, tal qual o da estimada burguesinha (?) Mayara Petruso, a mais nova celebridade das redes sociais na internet - depois do furor xenofóbico causado por ela no período pós eleitoral. Assim como várias pessoas, que pensam quantas vezes for preciso para não fazer uma grande e irremediável bobagem na vida, tenho certeza que essa garota (que dizem fazer um curso de direito) não representa nem a mínima parte do pensamento desse povo tão ordeiro, trabalhador e hospitaleiro que é o paulista.

Quanta besteira fazemos nessa vida, não é mesmo?... Me fez lembrar da humorista “Dadá” quando disparou algumas das suas contra sua cidade natal (que aliás é minha cidade também!) num programa de entrevistas da madrugada, metralhando sua raiva de infância contra os bordéis (que tem em todo lugar... inclusive ao que tudo indica, ela vive num, lá na Lapa) e a fome que ela diz ter passado. Por fim, todos por lá ainda brincam hoje dizendo que ela merece uma “boa pisa” pra nunca mais falar mal de suas origens e coisa e tal... Coisa nenhuma. Se hoje ela for por lá, garanto que estará tudo guardado a sete chaves no fundo do baú do esquecimento, sem nenhum tipo de rancor.

Mais ao contrário da experiente humorista (oh, yes!), acho que o problema aqui, para a querida burguesinha (?), são os nordestinos e não a região em si. Certamente ela e tantos outros brasileiros xenofóbicos vão, na primeira oportunidade, curtir o sol de verão, as praias, os pescadores sarados, o carnaval e otras cositas mas... É, o nordeste é playground do brasileiro, é sim. E os nordestinos sempre os receberão de braços abertos, pois não há motivos para se fazer girar essa roda da ira que pessoas como ela dispensam energia.

Tenho muitos amigos paulistas e paulistanos que com certeza não comungam de ideias tão esdrúxulas quanto a dessa moça (?). No máximo enchem o saco com nosso sotaque, mais eles entendem que esse é o nosso charme (é igual falar bah! tchê, lá no sul... acho charmoso...). Eles, pelo menos, conhecem um pouco mais sobre as várias regiões do nosso país com dimensões continentais. E por isso, sinto pena de pessoas (?) como Mayara, que infelizmente mostram com essas atitudes que não conhecem absolutamente nada do povo que eles próprios integram. E como alguém dessa estirpe ainda cursa faculdade de direito? Coisas do Brasil minha filha... oxi!

Há pouco tempo, ao dar um livro de presente à uma criança de minha mais alta estima, escrevi a seguinte dedicatória “(...) o saber é a chave que abre as portas de todas as (boas) oportunidades. Por isso, desejo que você construa a sua (...)”. O que eu quero dizer é que, com tudo isso e muito mais, tenho mais certeza que tal desejo procede, pois imaginem se uma pessoa qualquer não souber usar o twitter? (que é uma ferramenta tão difícil!? nossa... são tantos caracteres...) ou o usa como bem entende, tal qual a privada do seu banheiro? Se isso é tão dificil assim, talvez nem mereça (ou consiga) redigir uma petição.

Talvez se pessoas (?) como Mayara soubessem conceitos básicos do bem-viver, não tentariam provocar “guerrinha pra boi dormir” entre povos tão lindos como o nordestino e o “sulista”, o piauiense e o gaúcho, ou entre o Oiapoque e o Chuí... Talvez, pensaria mais no coletivo, lembrando que existe diversos Brasis. Como biólogo, entendo essas cargas genéticas como “fadadas ao fracasso”, visto que nós sempre usamos táticas coletivas para sobreviver nos mais diferentes lugares da Terra, adaptando-se às diversas pressões ambientais; um espécime humano isolado, individualista geralmente não alcança qualquer tipo de sucesso, perdendo a luta contra a seleção natural (grande Darwin!, viva a psicologia!). Agora, só basta saber se as “Mayaras” suportarão a atual pressão interposta pela vida representada aqui pelo singelo twitter. Divirtam-se Mayaras, como diz o Zé Ramalho, vocês são só um gado marcado no genoma da nossa espécie.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Reserva Biológica do rio Trombetas - Pará

  
 Pôr-do-sol na Rebio Trombetas

 
Acima: Podocnemis unifilis - "Tracajá"; abaixo: ninho de tracajá
  
Após um longo período sem internet em "home, sweet home..." (e isso foi mais de um mês), estou de volta com minhas voltas pela Amazônia. O Programa de Pós Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior - PPG-BADPI - do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, tem em sua grade curricular dois cursos de campo que visam colocar o mestrando ou doutorando em contato direto com a teoria que só vemos nos livros e demais publicações.

Nesse 1 ano e 8 meses de vivência em terras amazônidas, tive oportunidade de participar de duas disciplinas de campo. A primeira fiz no ano passado e se chama "Ecologia de Áreas Alagáveis" e contou com um timaço de doutores capitaneados pelo Dr. Jansen Zuanon. Já nesse ano, fomos à Reserva Biológica do rio Trombetas, entender como acontecem as pesquisas com quelônios da Amazônia na disciplina "Pesquisa, conservação e manejo de Quelônios" de responsabilidade do Dr. Richard Vogt. Essa reserva, que é um verdadeiro santuário de bichos, fica na bacia do rio Trombetas, um rio de águas claras que drena áreas do norte do estado do Pará e possui uma rica biodiversidade, como não poderia deixar de ser no bioma amazônico.

Tudo começou no dia 26 de agosto passado, quando embarcamos no barco Enigma rumo ao estado do Pará. Após contratempos com o gerador do mesmo, saímos entre o dia 27 e 28, navegando quatro longos dias pelo rio Amazonas, até chegar à Reserva Biológica do rio Trombetas - Rebio Trombetas. O objetivo do curso é, sobretudo entender a biologia de cerca de 10 espécies de tartarugas amazônicas, com foco principal em espécies como Podocnemis unifilis (Tracajá), Podocnemis sextuberculata (Iaçá), Podocnemis expansa (Tartaruga-da-Amazônia) e Peltocephalus dumeriliana (cabeçudo).

A Rebio Trombetas existe há mais de 30 anos e tem como finalidade a proteção integral do ecossistema, com estudos e acompanhamento de espécies de quelônios, castanhais, peixes e aves.

Para coletar esses os quelônios, são usadas redes de emalhar com três diferentes tamanhos de malhas. É preciso agilidade para tirar o bicho da rede em pouco tempo, pois se houver demora na despesca eles podem morrer afogados e isso é o que os pesquisadores não querem. Nesse curso também tive a oportunidade de ver que atualmente são empregadas algumas novas tecnologias para monitoramento de espécies, com rádio-transmissores. Isso tem se tornado bastante útil quando os pesquisadores precisam entender os padrões de distribuição ou deslocamento desses bichos numa dada área. Também pude aprender como fazer a biometria desses bichos, que requerem diferentes técnicas para tanto. Em alguns deles, foi preciso tirar uma amostra de sangue para diversas análises.

Mais o ponto principal, no meu ponto de vista, foi entender como ocorre a reprodução desses bichos. Primeiro saber que esses bichos estão entre os mais antigos do mundo e que vivem por décadas a fio; depois, conhecer como as fêmeas de diversas espécies escolhem pontos ideais nas praias para desovar e enterrar seus ovos. O mais legal foi entender como a temperatura no local do ninho influencia diretamente na determinação do sexo nas ninhadas: a partir de uma dada temperatura, só nascerão indivíduos machos ou fêmeas, dependendo da espécie. O sexo determinado pela temperatura (SDT) é um assunto que tem sido amplamente estudado desde quando foi descoberto (Bull & Vogt, 1979), pois durante o desenvolvimento embrionário, a temperatura pode influenciar também várias outras características nos filhotes de répteis, além do sexo.

Só o fato de estar com estudiosos do assunto (inclusive gringos...) num lugar tão rico e belo já valeu a experiência. Vi em mais essa oportunidade, que podemos avançar “aos saltos” na pesquisa no Brasil e principalmente no nordeste. Como diz Joseph Climber “ a vida... a vida é uma caixinha de surpresas”. Só cabe à nós investigarmos a fundo para saber que é mais que isso, é a beleza que pode aparecer descortinada sob nossos olhos. Cabe à nós entendê-la. Entenda-a, não é tão difícil assim.