É com muita nostalgia que lembro do Açude Mário Bezerra, na zona rural do município de Floriano. E hoje, li em http://www.florpi.com.br/ que o mesmo encontra-se totalmente coberto por plantas aquáticas, conhecidas popularmente como aguapés. É realmente uma pena ver algumas imagens do mesmo naquele estado, que poderia ser evitado com a prevenção pelos órgãos responsáveis pelo ambiente.
Essas plantas são oportunistas e aguardam um momento certo para "explodir" sua população. É uma espécie de lei na natureza de oferta e procura, pois se o ambiente oferece recursos suficientes para um grande crescimento populacional, qualquer espécie vai investir ao máximo em sua reprodução. Espécies como Eichornia crassipes resistem muito bem em ambientes altamente eutrofizados (que possuem grande concentração de poluentes) o que poderia ser usado em favor da qualidade da água, pois elas retém (acumulam) esse excesso de nutrientes; mas ao contrário, a grande concentração dessas plantas é um indicativo de que a saúde do corpo d'água em questão anda muito mal das pernas.
Os aguapés indicam debilidade do ecossistema porque essas plantas suportam também grande concentração de metais pesados, que possuem propriedades cumulativas e passam de um nivel trófico mais baixo para o mais alto. Em outras palavras, um peixe que se alimenta dessas plantas, incorpora metais no seu organismo; o homem, por sua vez, se alimenta desse peixe e acaba biomagnificando (acumulando) os metais, que não possuem funções no organismo mais que o mesmo não consegue eliminá-los. Exemplos mais comuns de metais pesados: mercúrio, cobre e chumbo, que sabidamente provocam diversas alterações fisiológicas em seres humanos, inclusive neurológicas.
Esteves (1998) aborda esse problema e relata algumas experiências sobre como enfrentá-los. Já tentaram coisas como garras ou grades para retirar mecanicamente as plantas e herbicidas, mais os resultados não foram satisfatórios, pois nesses dois casos as plantas cresciam no próximo período chuvoso. Nesse último, porém, o caso era mais grave, pois herbicida é um veneno que além de matar as plantas, intoxicam o ambiente lacustre e suas espécies nativas, tanto da fauna quanto da flora.
Entretanto, não é tão dificil conseguir conter o crescimento populacional dos aguapés se forem tomadas algumas medidas de prevenção. É imprescindível que qualquer tipo de efluente (esgotos) não sejam lançados no açude; também, podem ser usadas algumas espécies de peixes para controlar a população por meio da predação. Espécies herbívoras como as carpas (Cyprinus carpio), tilápias (Oreochromis niloticus) e as nativas espécies de piaus (Leporinus spp) são vorazes podadoras de algas e servem como controladores biológicos nesse caso.
Por isso, não seria uma má ideia se pensar num melhor manejo do açude. Seriam contemplados dois importantes aspectos aqui: uma melhor saúde no ambiente (que se reflete em saúde do homem) e o cultivo de alimentos, como o peixe. No entanto, várias investigações precisam ser feitas no açude, como por exemplo, a produtividade primária, levantamentos taxonômicos em todos os grupos de seres vivos e ecologia das espécies nativas. Penso que o pessoal que estuda biologia em nossa cidade poderia dar uma grande contribuição à sociedade, visto que é ela quem banca todos os gastos nas nossas universidades públicas. Falta muita coisa para ser feita em Floriano, em todas as áreas do conhecimento da nossa ciência.
Bibliografia citada:
Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de limnologia. 2ed., Interciência, Rio de Janeiro, RJ. 602pp.
Bibliografia citada:
Esteves, F.A. 1998. Fundamentos de limnologia. 2ed., Interciência, Rio de Janeiro, RJ. 602pp.