quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Rios da Amazônia

Rios Negro e Solimões. Imagem 1: Chico Mário

Todo mundo sabe: a região Amazônica é onde se concentra a maior parte da biodiversidade tropical na América do Sul, com diversos micro-hábitats* que permitiram (ou pressionaram) a evolução das formas de vida que ocorreram ou ocorrem por aqui desde os primórdios. O que muita gente não sabe (inclusive eu quando por aqui cheguei) é que existem três tipos de águas que alimentam os grandes sistemas hídricos. E ao que parece, esses ambientes certamente influenciaram de maneira decisiva na distribuição geográfica de várias espécies aquáticas.

Cada tipo de água reflete, sobretudo, características peculiares de sua bacia de drenagem. Os rios de água preta (1), por exemplo, drenam áreas consideradas muito antigas e não carreiam quantidades expressivas de sedimentos. No entanto, esse tipo de rio contém uma quantidade muito grande de ácidos húmicos e fúlvicos, que dão a cor característica a esse ambiente. É como se fosse um "chá de folhas".

Daí, várias consequências podem ser enumeradas: dentre todos os tipos, os de água preta são os mais ácidos, com pH chegando surpreendentemente a 4.0; certamente isso reflete na fauna aquática que abriga e alguns pesquisadores defendem que a miniaturização de algumas espécies de peixes, por exemplos, é reflexo dessa pressão ocasionada pelo ambiente. Não é consenso, mais realmente ai ocorrem mais espécies de pequeno porte que em outros ambientes. Como exemplos de rios com essa característica, cita-se aqui o Negro e todos os rios de sua bacia de drenagem.

Por outro lado, há os rios de água branca (2). Esse nome é dado aos cursos d'água que nascem no sopé da Cordilheira dos Andes. Juntamente por isso, eles possuem uma coloração amarelada, resultado de uma grande descarga de sedimentos (areia, argila e afins) daquela região pelos sistemas hidricos. Esses rios são os chamados "rios de várzea" onde a oscilação do nível dos rios é mais evidente. Como exemplos, o rio Solimões, Purus e Madeira. São importantes rotas migratórias dos grandes bagres amazônicos como a dourada (Brachyplatystoma rousseauxii).

Já os rios de águas claras (3) drenam áreas também relativamente antigas, mas diferente dos de água preta, drenam áreas do escudo central brasileiro. Nesses locais, a luminosidade penetra com mais intensidade que nos demais ambientes, pois eles não carreiam grande quantidade de sedimentos, nem tão pouco possui altas concentrações de ácidos, o que alteraria sua coloração. Por isso, uma maior produtividade primária é conferida a esses ecossistemas, pois há uma maior taxa de fotossíntese por organismos produtores, levando a uma maior diversificação de organismo e, por sua vez, maiores interações entre estes. O rio Xingu, Tapajós (no Pará), Tocantins (imagem 2, fonte: www.gobrasil.net/brasil/tocantinsPOR.shtml) e Araguaia são exemplos de rios de água clara. São considerados atualmente um dos maiores centros de endemismo** na Amazônia

Pelo pouco que conheci desse ambientes, classificaria também o Parnaíba como rio de água clara, levando em consideraçãos aspectos como a turbidez*** de suas águas. Como existe consenso no meio acadêmico de que a Amazônia um dia foi muito mais que o atual limite legal, talvez o Velho Monge estaria incluso nesse tipo. No entanto, mais investigações precisam ser efetuadas para que o Parnaíba seja enquadrado em algum tipo, ou quem sabe, seja até mesmo um ambiente fora dos padrões conhecidos pela ciência.

* Micro-hábitats: ambientes específicos dentro dos ecossistemas. Ex.: corredeiras, cachoeiras, canais dos rios, lagos, bancos de macrófitas, etc. (aquáticos); copa das árvores, montanhas, terra firme, subsolo, etc. (terrestres);
** Endemismo (de Endêmico): significa que uma espécie ou conjunto delas só ocorrem num único lugar;
*** Turbidez (de Túrbido): estado onde a transparência da água é pouca ou inexistente. Usa-se como medida para determinar concentração de sólidos suspensos em meios liquidos.

2 comentários:

  1. O texto nos remete a uma reflexão que você, Chico, não está na amazônia só tomando cachaça, mas produzindo ciência. Parabéns.

    Antonio José Rodrigues

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  2. Oxe... vc ta louco caro amigo Antônio? To tomando sim muita cana. E dançando muito forró tb...
    cordial abraço!

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