O
munturo é um mundo,
uma
coisa feita pra reciclar.
Não
é só lixo, algo sujo, imundo,
é
talvez só o tempo suspenso no ar.
Ouvi
e vi o munturo na casa de minha vó
e
confesso, não achava sentido algum...
Era
literalmente uma montanha de coisas,
totalmente
amontoadas, tão desorganizadas
que
no final das contas eu nem imaginava
que
aquilo tudo em pó se transformava...
Meu
avô um dia me disse que alí era o descarte,
mas
que sempre alguém buscava sua arte...
Era
lá a solução dos problemas do dia-a-dia,
dos
afazeres que o criar dependia.
E
a vida, meus caros, não é só a vivência.
Ela
depende do reinventar... E só pra rimar,
eu
que nem gosto de enfeitar, a vida é reciclar.
Reciclar
as ideias, o teu lixo, a tua vida.
Disso
você depende, todo santo dia.
E
nem me venha dizer que é história de biólogo,
desses
tal ecólogo que sempre te dizem
o
que fazer, o que viver, porque senão...
Na
verdade, o lixo ao qual me refiro é o do resto.
Não
o resto de alma mal vivida,
do
esgoto da estética descabida
da
roupa na loja vendida, sem nenhum propósito
sem
a boa lógica e com destino certo:
um
munturo sem função de reciclar. De aproveitar.
Hoje
olho pro meu quintal e ouço as vozes dos que já foram.
Deles,
só avô materno ainda me resta. E ainda bem que sua voz ecoa
tão
forte que nem preciso estar desvairando pra viver a verdade.
Nem
preciso olhar pro céu e ver dragões, coelhos
tudo
que minha mente vê e otras cositas más...
E
enfim, o munturo se fez em mim.
Sou
a parte do todo, o pó das estrelas
e
o brilho pretérido delas. Mas antes disso,
bem
antes do fim, quero ser a parte da água,
parte
do maior munturo que chamam de mar.
Continuo
a ser o fio, o pano que chamam rio.
Um
munturo a navegar. E eu sou um mundo.