quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Tarde de passarinho

Ah como é bom ser passarinho...
Brincar de cantar, pousar sem parar
construir o meu ninho...
Viver a voar. Em pleno luar.

Diante de minha fronte doída
suspiro desejos, almejo bocejos.
Ah mais que vida terrestre sofrida...
Queria o voar junto com os solfejos.

Por isso morro de inveja das aves:
mesmo fugindo do predador
ou das pedras que lhe causam dor,
eu queria mesmo planar, igual uma nave.

Todo dia o sol bate forte em mim...
Castigando a pele, ofuscando sonhos,
ressecando a neve de meu rim,
que circula e me parece ter fim.

Queria mesmo ser um passarinho
voando livre nesse anil
sonhando alto, o mais alto enfim!
Pisando fundo em rodopio.

Quem me dera usar plumagem...
Ter em meu bico retorcido
a chance de colher o trigo
e lá do alto olhar a paisagem.

Quem de dera ter as cordas...
E respirar bem natural,
não ter esforço pra cantar...
Igual uma orquestra e recital.

Ah como deve ser bom ser um passarinho...

Um comentário:

  1. Meu caro Chico Mário, seu apaixonado por pássaros. Tenho a impressão que quem ensinou o homem a cantar foi o passarinho. Tão pequeno e tão potente comparado ao tamanho do homem. Não precisa microfone, caixa amplificada e nem plateia para cantar. Canta porque gosta e sabe cantar. Expressando a sua felicidade de viver. E quando livre, canta muito mais bonito, voando e cantando levando o seu canto e sua beleza rumo ao infinito.

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