segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mais uma de lua.

Ontem eu olhei pra lua
e estava cego, mas tão cego
que enxergava ela no reflexo.
Era outra lua a me vigiar na rua...

E hoje estou cego, mas tão cego
que ao olhar pra lua, na rua,
ao invés de uma, vejo duas.
Talvez nem seja nada já que estou cego...

Quem me dera ser astronauta.
Pra usar todo o espaço, sem pausa
pra me apequenar em outra pausa
de um retrato infinito e despausado

Quem me dera voar numa espaçonave.
Gravitar sem culpa, desfrutar da uva
que é viver a contemplar o todo.
Viver pra sempre mudando o tom.

Loucura é viver sem loucura...
Sem deliciar o doce da fruta,
sem remar nesse mar amargo de candura.
É viver sem um rio de ternura.

A mesma lua se desfarça...
Quando ela se mostra aqui
pode estar escondida aí, pra ti...
Nunca reflete o que ha aqui, dentro de mim.

E dentre tantos devaneios,
eu que nunca receio,
tive medo de amar.
É como aprender a soletrar...

E agora a lua iluminou o rio,
o meu rio de diamantes
que hoje está por um fio.
Sim, ele é hoje o meu desafio.


Hoje eu brigo por (e com) ele,
pra escorrer direito em meu peito,
pra mostrar de fato pra quê veio.
Pra sentir bem fundo, bem no seio...

E por fim, a lua ainda me encara:
formando dragões no céu,
entre o meu vinho e o véu,
na certeza de uma luz que, sim, se acaba.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O anoitecer no Parnaíba é ensurdecedor!


Crédito: Alceuderir Oliveira

Passarinhos valentes


Casal de "Cancão" brigando contra seus oponentes: reflexo da porta de vidro.

Tarde de passarinho

Ah como é bom ser passarinho...
Brincar de cantar, pousar sem parar
construir o meu ninho...
Viver a voar. Em pleno luar.

Diante de minha fronte doída
suspiro desejos, almejo bocejos.
Ah mais que vida terrestre sofrida...
Queria o voar junto com os solfejos.

Por isso morro de inveja das aves:
mesmo fugindo do predador
ou das pedras que lhe causam dor,
eu queria mesmo planar, igual uma nave.

Todo dia o sol bate forte em mim...
Castigando a pele, ofuscando sonhos,
ressecando a neve de meu rim,
que circula e me parece ter fim.

Queria mesmo ser um passarinho
voando livre nesse anil
sonhando alto, o mais alto enfim!
Pisando fundo em rodopio.

Quem me dera usar plumagem...
Ter em meu bico retorcido
a chance de colher o trigo
e lá do alto olhar a paisagem.

Quem de dera ter as cordas...
E respirar bem natural,
não ter esforço pra cantar...
Igual uma orquestra e recital.

Ah como deve ser bom ser um passarinho...