Ontem
eu olhei pra lua
e
estava cego, mas tão cego
que
enxergava ela no reflexo.
Era
outra lua a me vigiar na rua...
E
hoje estou cego, mas tão cego
que
ao olhar pra lua, na rua,
ao
invés de uma, vejo duas.
Talvez
nem seja nada já que estou cego...
Quem
me dera ser astronauta.
Pra
usar todo o espaço, sem pausa
pra
me apequenar em outra pausa
de
um retrato infinito e despausado
Quem
me dera voar numa espaçonave.
Gravitar
sem culpa, desfrutar da uva
que
é viver a contemplar o todo.
Viver
pra sempre mudando o tom.
Loucura
é viver sem loucura...
Sem
deliciar o doce da fruta,
sem
remar nesse mar amargo de candura.
É
viver sem um rio de ternura.
A
mesma lua se desfarça...
Quando
ela se mostra aqui
pode
estar escondida aí, pra ti...
Nunca
reflete o que ha aqui, dentro de mim.
E
dentre tantos devaneios,
eu
que nunca receio,
tive
medo de amar.
É
como aprender a soletrar...
E
agora a lua iluminou o rio,
o
meu rio de diamantes
que
hoje está por um fio.
Sim,
ele é hoje o meu desafio.
Hoje
eu brigo por (e com) ele,
pra
escorrer direito em meu peito,
pra
mostrar de fato pra quê veio.
Pra
sentir bem fundo, bem no seio...
E
por fim, a lua ainda me encara:
formando
dragões no céu,
entre
o meu vinho e o véu,
na
certeza de uma luz que, sim, se acaba.