quinta-feira, 7 de maio de 2015

Vento que sopra em mim

No céu azul-anil que vejo, me perco em meus pensamentos...
Vejo folhas caindo ao vento, soprando leve sobre mim.
Olho ao fundo e vejo cercas, muros altos que me isolam;
olho dentro e vejo tudo, chuva e sol que me transborda.

O meu hábitat é claro, mas vejo noite caindo;
e eu tento, com meu vinho, esquecer tudo de mim.
Quem sabe assim eu me deleite no novo,
num novo formato que aqueça o meu sonho.

Agora o truvo se apodera... E o vento? Ah! Esse nem me espera.
Bate em mim, tão viciante, tão balançante
Que só me vejo flutuar. Tão bêbado, tão embriagante
que suspiro a me afagar. Eu vivo sim e isso me regenera.

O tranquilo aqui impera... De noite o som do grilo,
de manhã ave na janela. Ao longe a saracura,
que dos três-potes, só de um a água cura.
E assim me aquieto, não vejo nem ouço mais impecilhos.

Os meus sonhos enfim mudaram, quem sabe pra melhor...
Um dia eu vejo as nuvens, n’outro o seu criador.
E de noite, sem mais horrores, vejo a lua em esplendor;
e eu que sou a criatura, vi nascer a formosura, esse tal bunito amor...

Ontem eu saí a passear... Num desses barcos azul-metal
e senti a mesma brisa, vi meu rosto suspirar.
O anil se fez barreado, o nadante a levitar
e no final fiz minha mente, fiz o meu motor roncar.

E por fim, a noite se refez sem o brilho do luar:
foi ele minha lanterna, o meu truque, minhas pernas, que usei para viver.
Ele foi o meu desejo, o meu delírio de prazer...
E é nele o meu vinho, és o fio a me tecer.


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