Dizia ele:
- O vazio é um quase cheio, uma coisa por um fio!...
É como uma coisa fina, como um fio que liga extremos, trazendo
luz à escuridão. Um violão, os pedestais e seus microfones, a percussão e tudo
mais, não são nada sem as pessoas para toca-los. São vazios. Nem mesmo tudo, a
casa, o carro e o rio-mar, parecem tudo frente ao vazio criado pelo rompimento
desse fio. A condução de tudo foi perdida e o cheio se esvaziou bem pra lá
desse mundo, bem pra lá do riacho fundo.
Os trilhos dessa estrada se tornaram cada vez mais vazios de
sentido, de novidade a cada curva antes surpreendentemente desconhecida. O
vazio se fez da graça de outrora para uma “sem
gracice” preponderante e que teima em se tatuar na pele feito um carma. E
então o vazio se tornou profundo, como um riacho fundo cheio de poços quase
ligados, quase cheios pela chuva que passou. O quase vazio se confundiu com o
cheio, d’onde quase tudo é completo, carente de significado. Pra quê? Pra quem?
Por quê?
“Tenho tudo nas mãos mas não tenho nada”, já dizia o poeta
do bom e velho forró, rela bucho. Mas
é tanta rima solta, tanto ponto sem nó, tanto chão sem pó que até a música calou-se,
meditanto o porquê de tanto instrumento, de tanta poesia. Fizeram de tudo pra serem
visto, ouvidos. Fizeram o certo, o errado, inté os dois ao mesmo tempo pra ver
a loteria do provavel acontecer. Tudo em vão. Fica a interrogação. De certeza,
só a cara de frente com o muro do vazio, do quase lá.
Não se trata de discurso pessimista ou mesmo de mensagens
subliminares que pervertam vossas mentes. Nem tão pouco do agouro que arrupeia a pele antes da consumação.
Trata mais da filosofia, do jeito de pensar. Tudo faço ou faço nada para a
tampa encaixar? A água jorra certa ou errada pra cumbuca transbordar? Talvez o
falte fio, o quase nada, pra essa tampa pipocar.
O mundo é um mundo e o meu [teu, vosso] mundo é só um mundo.
Tão fundo que a água que sai não transborda pra encher o vazio. Tão mundo que
tudo o quanto tenho serve pra tudo e pra todos. Tão vivo tal qual o vinho mais
capitoso, mais cheiroso. E os “made in PE” então, nem se fala. São a salvação
da lavoura contra seca e enchente.
Seca, cheia, rio, peixe... Todos significam algo em sua
completude. Têm atributos que os destinguem e identificam. E o vazio? Como nos
identificar quando as coisas que possuímos estão desprovidas de significado?
Talvez, estejamos egoístas. Talvez estejamos mareados com as inúmeras
expectativas que cercaram as coisas e as tornaram vazias. Sem medo de dizer,
escuto a minha alma pra afastar esse copo meio cheio, essa taça vazia que
teimamos tomar. Talvez o vazio não seja nada. E com certeza, o vazio só caberá
como objetivo quando olharmos pra uma bela e cheia taça de vinho.
Essa é a estória do cabra que conversava com ele
mesmo e que um dia pretendeu ter tudo que o dinheiro pode comprar pra encontrar
a tal felicidade. Ele só não se lembrava do vazio que vem embutido em cada
compra.
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