terça-feira, 3 de junho de 2014

Sweet invasion


Desde quando nos tornamos cosmopolitas, temos o hábito de levar e trazer coisas as quais precisamos. Dentre elas, plantas e animais têm presença marcante, pois de alguma maneira nos são úteis. Não é por nada que existem hoje algumas plantas amplamente utilizadas na agricultura e animais domesticados, que carinhosamente chamamos de “pets”, além de outros que compõe a base alimentar de muitas culturas.
Não pretendo fazer aqui um levantamento histórico de como se deu a distribuição de algumas plantas e animais através das mãos do homem; até porque isso se confundiria com a maneira complexa na qual o próprio homem chegou aos quatro cantos do mundo. Entretanto gostaria de ressaltar alguns problemas ecológicos locais, originados do descuidado do homem com o seu ambiente quanto à introdução de espécies. Em suma, espécies exóticas podem não ser adaptadas ao novo local (sendo eliminadas a curto-médio prazo) ou, de alguma forma, influenciam na dinâmica natural.
Chamo atenção para um problema que pode ser muito grave e que envolve uma espécie de peixe amazônico. O tucunaré (Cichla sp.) foi há muito tempo introduzido no Nordeste brasileiro, talvez pela prática da piscicultura, e pode em médio-longo prazo desestruturar toda a comunidade de peixes de uma dada localidade.
Tomemos o rio Parnaíba como exemplo. Lá, essa espécie parece ter encontrado um hábitat perfeito para a manutenção de sua população. Rio acima, mais precisamente na barragem de Boa Esperança, o lago parece funcionar como berçário para o tucunaré. Não é de se admirar, pois essa espécie tem hábitos lênticos (ou seja, prefere ambientes de água parada); entretanto, em locais à jusante ele pode ser encontrado, embora com uma abundância muito menor que na barragem.
A pergunta que não quer calar sobre esse bicho é como ele pode alterar a comunidade biótica no rio como um todo. Me preocupo muito com isso pois o tucunaré é um voraz devorador de outros peixes (se for menor e ele puder engolir, tá morto!). Uma prova disso foi o que aconteceu no Lago Gatún (Panamá) onde ele também foi introduzido: pouco tempo depois não existia nem se quer o próprio tucunaré.
Outro exemplo emblemático aconteceu no Lago Vitória (África), com um parente próximo do tucunaré. A Perca-do-Nilo (Lates niloticus) dizimou uma das faunas de peixes de água doce mais ricas e exuberantes do mundo, tudo por culpa da brilhante ideia de alguém que tinha a intensão de aumentar o produto da pesca no lago. Genial, pois a carne do bicho nem é tão apreciada pelos habitantes locais... Além disso muita lenha era utilizada como matriz energética para defumar a carne da perca, pois a mesma é bastante oleosa e só através desse processo sua conservação poderia ser efetivada.
Voltando ao rio Parnaíba, pelo menos mais quatro espécies de peixe (sem contar com o tucunaré) são consideradas exóticas, sendo duas originárias da Amazônia, uma da África e outra da bacia do Paraguai-Paraná. Pensando na biologia trófica e reprodutiva delas, talvez, para um leigo, não significasse grandes problemas para os peixes nativos e demais componentes ambientais do Parnaíba. Entretanto, ninguém ainda garante que a dinâmica desse ambiente não será profundamente alterada pelo conjunto de impactos causado pela entrada dessas “coisas estranhas”.

Dessa forma, uma minucionsa investigação no rio Parnaíba deve ser iniciada para que sejam encontradas medidas mitigadoras para esse problema que doravante se apresenta. Podemos evitar com isso que inúmeras pessoas que dependem do produto da sua pesca percam a sua principal fonte de renda e de proteína animal.

em 26/03/2014

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