segunda-feira, 16 de junho de 2014

Barragens brasileiras e o mito da energia renovável




Mais um da disciplina Métodos e organização de trabalhos científicos.


Quando se fala na construção de barragens nos grandes rios para geração de energia elétrica, logo nos vem à mente o grande “fusuê” que foi a instalação do canteiro de obras de Belo Monte, no Pará. Sem nenhuma dúvida, esse empreendimento trouxe a proposta mais confusa e descabida para desafogar o setor energético brasileiro.
Como se não bastasse, outras tantas monstruosidades estão sendo propostas no Norte e Nordeste do país. As corredeiras do Teles Pires, por exemplo, (um dos principais afluentes do grandioso rio Tapajós) já estão na mira do governo que não está se preocupando muito com tudo que o cerca: a caça e a pesca por povos nativos e principalmente a mudança que a construção de uma grande obra trará (para pior) na região.
Esses dois casos que citei funcionam somente como o início do problema, infelizmente. Eles demonstram a fragilidade que o povo brasileiro tem (através dos seus representantes) quanto à decisões importantes e que mexe com a vida de milhares (talvez milhões) de pessoas. Por isso, empreendimentos sem retorno, como a hidrelétrica de Balbina, no Estado do Amazonas, continuam a ser pensadas diunturnamente.
Então passemos para o Nordeste. O grande lance aqui é o rio Parnaíba, com seus 1.400km de extensão das nascentes ao seu maravilhoso delta. Não é um grande rio comparado com tantos outros, mas é imponente e com uma vazão interessante para a geração de energia hidroelétrica. Talvez seja por isso que bem no início desse século o governo planejou fazer nele cinco usinas. Uma cascata de barramentos seria providenciada o quanto antes para somar com a já existente e que ainda nem foi terminada (construída na década de 60).
Lembrando que a água tem um caráter renovável, duvido muito que tais empreendimentos sejam renováveis. Sim, pois se alteramos a dinâmica natural desse ecossistema que tem como principal substância a água, não sei (ninguém sabe) até quando essa proposta governamental é viável, econômica e ambientalmente.
Talvez outras maneiras de geração da energia elétrica sejam mais interessantes: não é difícil perceber que as regiões Norte e Nordeste estão localizadas bem na linha do Equador, onde sabidamente incidem a maior quantidade de radiação solar. Então, se gastam rios de dinheiro para construir uma hidrelétrica: porquê não investir parte desse montante em equipamentos para captação da energia solar?
Outra maneira interessante e que timidamente vem ganhando espaço no litoral nordestino é aproveitando a energia dos ventos. Em inúmeros municípios potiguares, por exemplo, empresas estão se instalando para fabricar e comercializar aqueles “grandes cataventos”. Por isso, penso que muito em breve outras maneiras de gerar energia, como essa, ganharão espaço e serão amplamente utilizadas para o dia-a-dia do brasileiro.
A partir desse cenário, enxergo que a cultura das hidrelétricas no Brasil pode estar com os dias contados, ao passo que outros mecanismos ganhariam espaço no mercado, barateando produtos pela leal concorrência. Se lembrarmos o quanto já foi caro possuir uma placa fotovoltaica, poderemos vislumbrar um futuro bastante promissor e que, sem dúvida, nos demandará muitas indas e vindas através das nossas experiências. Sou mais um do time que torce e trabalha por mudanças de atitudes que nos façam ter dias melhores enquanto estivermos por aqui pela Terra.

Em 15/04/2014

terça-feira, 3 de junho de 2014

Sweet invasion


Desde quando nos tornamos cosmopolitas, temos o hábito de levar e trazer coisas as quais precisamos. Dentre elas, plantas e animais têm presença marcante, pois de alguma maneira nos são úteis. Não é por nada que existem hoje algumas plantas amplamente utilizadas na agricultura e animais domesticados, que carinhosamente chamamos de “pets”, além de outros que compõe a base alimentar de muitas culturas.
Não pretendo fazer aqui um levantamento histórico de como se deu a distribuição de algumas plantas e animais através das mãos do homem; até porque isso se confundiria com a maneira complexa na qual o próprio homem chegou aos quatro cantos do mundo. Entretanto gostaria de ressaltar alguns problemas ecológicos locais, originados do descuidado do homem com o seu ambiente quanto à introdução de espécies. Em suma, espécies exóticas podem não ser adaptadas ao novo local (sendo eliminadas a curto-médio prazo) ou, de alguma forma, influenciam na dinâmica natural.
Chamo atenção para um problema que pode ser muito grave e que envolve uma espécie de peixe amazônico. O tucunaré (Cichla sp.) foi há muito tempo introduzido no Nordeste brasileiro, talvez pela prática da piscicultura, e pode em médio-longo prazo desestruturar toda a comunidade de peixes de uma dada localidade.
Tomemos o rio Parnaíba como exemplo. Lá, essa espécie parece ter encontrado um hábitat perfeito para a manutenção de sua população. Rio acima, mais precisamente na barragem de Boa Esperança, o lago parece funcionar como berçário para o tucunaré. Não é de se admirar, pois essa espécie tem hábitos lênticos (ou seja, prefere ambientes de água parada); entretanto, em locais à jusante ele pode ser encontrado, embora com uma abundância muito menor que na barragem.
A pergunta que não quer calar sobre esse bicho é como ele pode alterar a comunidade biótica no rio como um todo. Me preocupo muito com isso pois o tucunaré é um voraz devorador de outros peixes (se for menor e ele puder engolir, tá morto!). Uma prova disso foi o que aconteceu no Lago Gatún (Panamá) onde ele também foi introduzido: pouco tempo depois não existia nem se quer o próprio tucunaré.
Outro exemplo emblemático aconteceu no Lago Vitória (África), com um parente próximo do tucunaré. A Perca-do-Nilo (Lates niloticus) dizimou uma das faunas de peixes de água doce mais ricas e exuberantes do mundo, tudo por culpa da brilhante ideia de alguém que tinha a intensão de aumentar o produto da pesca no lago. Genial, pois a carne do bicho nem é tão apreciada pelos habitantes locais... Além disso muita lenha era utilizada como matriz energética para defumar a carne da perca, pois a mesma é bastante oleosa e só através desse processo sua conservação poderia ser efetivada.
Voltando ao rio Parnaíba, pelo menos mais quatro espécies de peixe (sem contar com o tucunaré) são consideradas exóticas, sendo duas originárias da Amazônia, uma da África e outra da bacia do Paraguai-Paraná. Pensando na biologia trófica e reprodutiva delas, talvez, para um leigo, não significasse grandes problemas para os peixes nativos e demais componentes ambientais do Parnaíba. Entretanto, ninguém ainda garante que a dinâmica desse ambiente não será profundamente alterada pelo conjunto de impactos causado pela entrada dessas “coisas estranhas”.

Dessa forma, uma minucionsa investigação no rio Parnaíba deve ser iniciada para que sejam encontradas medidas mitigadoras para esse problema que doravante se apresenta. Podemos evitar com isso que inúmeras pessoas que dependem do produto da sua pesca percam a sua principal fonte de renda e de proteína animal.

em 26/03/2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Piaus do rio Tapajós

Eis que minha dissertação de mestrado virou livro!




http://www.bookdepository.com/Peixes-Anostomideos-Do-Rio-Tapajos-Feitosa-Francimario/9783639615647

Na mosca?



Parece que mais notícias sobre “seca” continuarão a ser veiculadas, penso eu que de maneira infinita. O problema que hoje os paulistanos sofrem com o Sistema Cantareira – no abastecimento de água – me lembra de maneira muito forte o quanto a política é podre no Brasil. E hoje, após fazer minha leitura diária de notícias, tive mais certeza de que o “buraco é muito mais embaixo” e que esse problema só reflete um estado de coisas acontecendo.
Muitos são os pontos de vistas, diversos especialistas foram ouvidos, mas numa coisa todos concordam: problemas como esse podem respingar no próximo pleito eleitoral. E a coisa mais engraçada? Temos problema no abastecimento d’água, que no caso de São Paulo é de responsabilidade de um grupo político, e no fornecimento de energia elétrica, de responsabilidade de outro grupo, que por acaso é oposição daquele.
O que vai acontecer então? Diriam os “políticos” mais radicais e recalcados que tudo isso vai dar em pizza. Mais, penso eu, que o circo vai pegar fogo e já consigo até imaginar o picadeiro em brasas: de um lado, imagens de um governante sendo molhado com água suja de uma recente obra e do outro os raios de uma “deusa do tempo” caindo sobre as redes de transmissão e causando apagões de um dia inteiro. É, talvez pense em cobrar direitos autorais de publicidade.
Parece que não vai chover... E pensar que isso era uma preocupação frequente de nordestinos. Sim, daqueles que plantam anualmente uma pequena rocinha de arroz, feijão e milho, para suprir as necessidades básicas de suas famílias. Gozado não? Será que algo será feito para resolver o problema que ora São Paulo enfrenta?
Especialistas ouvidos por um determinado jornal (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1421898-para-especialistas-sp-ja-deveria-adotar-racionamento-leve.shtml) sugerem um “racionamento leve” e que o remanejamento de água de outros reservatórios é insustentável a longo prazo. Pensar num “plano b” nesse caso me faz pensar o quanto ainda somos incapazes de resolver problemas práticos do dia-a-dia de maneira mais holística.
Através de uma pequena pesquisa para esse caso consegui enxergar o gigantesco gasto de tempo e dinheiro que se tem com o empréstimo de água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga. Assim, uma pergunta não me quer calar: onde e como serão buscadas alternativas para mais de 10 milhões de habitantes caso o sistema entrar em colapso?
O fato de que toda essa estratégia montada pelo governo seja talvez a única alternativa viável para o momento, pode soar para alguns leitores, um erro de análise de minha parte. Para estes, lembro que outras alternativas a longo prazo podem ser viáveis mesmo sendo São Paulo uma selva de pedras. Uma cidade que não preza, por exemplo, pelo tratamento do esgoto por ela produzido não pode pensar em alternativas que somente “suguem” os recursos naturais.

Uma resolução para o problema passaria necessariamente pela recuperação de ambientes que antigamente eram fornecedores de água e que ainda não se encontram sob o solo impermeabilizado da selva de pedra. Outro ponto seria dar uma destinação adequada para o esgoto produzido e não somente lança-los no córrego mais próximo, transformando-o em esgoto (ou seja, mais um problema a ser resolvido). Por último, e penso eu mais que importante, que seja de fato implementada uma educação que tenha por meta a resolução de problemas de uma forma mais humana.


em 07/03/2014