Floriano, Piauí, Brasil, século XXI. Muito sol e calor nessas bandas de cá do Nordeste brasileiro, rachando dia-a-dia nossa muleira. É bem aqui... Nessa encruzilhada ecotonal entre o Cerrado e a Caatinga. Isso mesmo, século 21, onde muita coisa arcaica ainda teima em ressurgir das cinzas, talvez fundamentada num passado recente, enraizado pela cultura colonial. Tempo em que ainda somos obrigados a usar calça e paletó pra "respeitar" a autoridade de um juiz, uma simples pessoa que acerta e erra, como qualquer ser humano.
Século 21, Floriano, Piauí. Morro e não vejo tudo - por isso a ênfase para a ideia inicial. Não consigo acreditar que em pleno século 21 ainda existam perseguições e medo oriundo de represálias por parte daqueles que detém o poder público. Não acredito. Parece coronelismo? É... Parece que o velho Lula estava errado em dizer lá em 1972 que "o coronelismo já perdeu o cartaz...".
Mas, algumas coisas de cunho particular vêm acontecendo e desmascarando essa cruel face do poder. Lembrei-me agora do velho ditado que diz o seguinte: "quer conhecer alguém, dê poder à ele". Outro dia assisti à uma entrevista de um sociólogo polonês, bastante famoso na Europa (o qual seu nome me falha em memória) que usava crises recentes para explicar como o poder e a política mantem uma espécie de jogo de interesses, mediado pelas pessoas que os detém. Dizia ele - e isso jamais esquecerei - que enquanto não houver o divórcio entre o poder e a política mais crises irão continuar a comprometer a vida entre as pessoas e por que não dizer entre as sociedades humanas da Terra.
Sem rodeios: chegou até os meus ouvidos que existe uma espécie de "briga" motivada por politicagem relictual da última eleição, entre uma certa clínica particular que atende pacientes pelo SUS e a atual cúpula administrativa do município de Floriano. O fato é que os donos dessa clínica apoiaram no período eleitoral um certo candidato que fazia oposição ferrenha ao atual. A eleição passou, o atual empossou e as brigas que deveriam ficar no campo do passado rebrotam das cinzas da esquisitice humana. Penso que algumas coisas deveriam ter ficado lá na "época da política".
Ai acontece o mais legal da história: os repasses que deveriam ser efetuados pela prefeitura na primeira semana de cada mês para o tal estabelecimento foi sendo religiosamente atrasado desde o primeiro mês de 2013, não se sabe porque cargas d'água (já que o dinheiro vem todo mês - vide imagem abaixo). Será que a cúpula administrativa quer que a tal clínica entre em falência, e de propósito? Já não duvido mais de nada...
Enquanto isso, trabalhadores que nunca tiveram nada a ver com brigas de ego entre os "colarinhos-branco" de "cuecas-suja", pagam por ter seus salários atrasados. Mais que isso: deixam de honrar seus compromissos, dificultando a vida que já é difícil em virtude da política financeira que impera no Brasil. Será que todo mês vai ser assim, tendo que mendigar para ser pago por um serviço contratado?
Não tenho nada contra o senhor prefeito e sua trupe, mas vejo na política do partido - que ora manda as cartas por aqui - uma verdadeira afronta à democracia, igualdade e publicidade. Pensei que o PSB (olhe que já fui militante dele) fosse um partido que se preocupasse com as pessoas, como a própria ideologia partidária rege. Mas hoje, quanto a isso, tenho certeza que não, visto que o manda-chuva estadual é um verdadeiro "diabo-da-Tasmânia", devorador astuto de partidos. Um verdadeiro predador de ideologias fincadas desde o tempo da Grécia antiga. É, ele num tá nem aí: dissolve bases partidárias locais e as manda todos lá pra pqp.
A administração atual de Floriano não tem sido igual para todos, isso é fato. Também, não dá possibilidades ao cidadão de pesquisar como o dinheiro que vem está sendo usado (ver imagem abaixo). Com todo respeito que tenho à administração e particularmente ao Sr. Prefeito, o qual conheço pessoalmente, não posso me calar para essas coisas que acontecem. Como diz Raul Seixas "Eu também vou reclamar" e o homem público tem que ouvir seus munícipes e analisar uma melhor saída para os conflitos. O Sr. Prefeito sabe, ele é juiz...
Agora, tomar atitudes como se fosse um bicho acuado não é do feitio de pessoas sérias e isso vale para a equipe administrativa do atual governo municipal. O aprendizado mais significante é aquele efetivado com exemplos, baseados na moral. Se, nesse caso, o lado que se encontra no poder tem atitudes amorais significa dizer que o povo está em maus lençóis. O povo não precisa levar mais tapas e coronhadas. Não é preciso o revide. Não se bate em homem bêbado nem cachorro morto. Penso que é assim que a cúpula de Floriano deve agir para tornar nossa cidade cada vez melhor.
(...) Ê sertão das futricas! Sertão dos políticos (risos) enganadores ein deputado? (risos)... A gente chega neles assim nos comícios: "dia 03 todo mundo lá!" (risos) Todo mundo lá... Ninguém sabe em quem votou... Ninguém! (risos) (...) Sabedoria alheia: num vote nesse homi não que ele é rico... Tu vai votar em quem "Pedo"? No coroné... (risos)... Pra deputado? É no coroné... Pra senador? É no coroné! Pra prefeito? Coroné. Pra presidente da república? É no coroné! Êêi! O que vale é que é (...) coronéis perderam o cartaz, hoje num tem mais esse negócio de coronelismo (...) Coroné hoje é coroné meeeermo! (...)
Luiz Gonzaga, 1972
Teatro Teresa Raquel - Rio de Janeiro, Brasil.