Tudo certo para a 4ª das seis coletas (e não cinco, como noticiei na última postagem sobre o assunto) na barragem de Bocaina, Piauí. Conversando com populares e trabalhadores do projeto de piscicultura implantado no local, descobri que a ideia da construção da represa partiu mediante uma suposta necessidade de água para irrigação nas propriedades da região. Necessidade frustrada, pois não se tem notícia sobre grandes projetos que usam essa técnica para produção agrícola por essas bandas.
De fato, o aproveitamento atual do lago se dá através da piscicultura. O negócio parece ser bastante atrativo para os produtores e tem gerado emprego e renda para diversas pessoas. Muitas delas se especializaram, por exemplo, em filetar tilápia, embora não veja muito esse produto (filé) no comércio local. A venda do pescado, quase que integralmente, é de peixe in natura, recém despescado. O interessado vem à colônia, pede, e um funcionário vai imediatamente buscar a quantidade desejada pelo cliente.
Bom, mas voltando ao assunto original dessa postagem, posso dizer que estamos bastante satisfeitos com os resultados pré-liminares do trabalho, salvo a falta de bibliografia para um dos aspectos que serão investigados. Por isso, quero aqui expor uma certa indignação com alguns companheiros cientistas do Piauí. Creio que ajudando um ao outro, todos têm a ganhar. Mas infelizmente, não é assim que pensam algumas pessoas, as quais solicitamos ajuda nesse sentido. Arrisco dizer que esse é um dos motivos do atual estado da arte na pesquisa científica do Estado: medíocre.
No entanto, cientista que se preza sempre tem um plano B, uma carta na manga. Caso não aja publicações, não será por isso que deixarão de ser efetivadas. O que vale mesmo são os resultados surpreendentes que temos observado, coleta após coleta, nesse bioma que é considerado pobre de espécies. Também vale ressaltar as interessantes observações que temos feito, principalmente no que diz respeito à abundância de algumas espécies.
Na postagem anterior, frisei que a sardinha (Triportheus signatus) era uma forte candidata a figurar publicamente a sua dieta e alimentação. Creio hoje que isso é fato, pois sua abundância chega a ser, para mim, assustadora. Muito terá o que se discutir em relação a isso, pois lá a sua biologia parece ter achado um recanto em toda sua área de distribuição. Ressalto aqui, sem nenhum receio, que a perturbação do ambiente provocou essa situação, principalmente pelo lançamento de insumos da piscicultura e limpeza do pescado no mesmo local da sua produção.
Interessante também é notar a ausência dos bagres lisos (Siluriformes). Talvez porque as técnicas de coleta não sejam eficientes para sua captura. Esses peixes geralmente habitam o fundo dos lagos e rios se alimentando de muitos itens que lá chegam. Entretanto, populares afirmam que a profundidade em alguns pontos chegam a 80 metros. Somente um exemplar, da Família Achenipteridae (popularmente conhecido como cumbá - ver foto abaixo) foi capturado até a terceira coleta. Entretanto, duas espécies de caris (Familia Loricariidae) foram coletados e são relativamente abundantes.
Um fato que muito me preocupa é o período de coleta. Seria um semestre de coleta, o que não contempla um ciclo hidrológico completo. Embora estejamos fazendo o trabalho no período que deveria estar chovendo, temo que esse curto período de amostragem nos impeça de fazer discussões mais elaboradas. Talvez, uma saída seria ampliar as coletas - realizando pelo menos mais duas no segundo semestre desse ano. Enfim, alguma saída deve ser urgentemente pensada para a resolução desse problema, contemplando os objetivos iniciais do plano.
Outro fato preocupante é a saúde da água na barragem. Penso que algumas estratégias devem ser pensadas para evitar que a água se torne um caldo de ração vísceras e escamas (se bem que a sardinha e outros pequenos peixes parecem estar dando conta dessa carga de alimentos em excesso...). Bom, o fato é que isso deve ser investigado para que, quem sabe, saídas alternativas possam ser implementadas, aproveitando ainda mais o potencial do local. Esse é o nosso desejo e estamos trabalhando para isso.
Antigamente no rio Guaribas existiam muito peixe cimbá, assim como também muitas outras espécies de peixe: mandi, traíra, corró, curimatá, mandi, piaba, piranha, etc ...
ResponderExcluirOlá Edimar (presumo),
ExcluirEstamos justamente realizando o levantamento das espécies. Só que o ambiente escolhido para esse trabalho foi perturbado e algumas delas, provavelmente, foram extintas localmente. Os peixes têm mto a nos dizer e a saúde das pessoas depende tb da boa saúde do local onde vivemos. A nossa intensão é contribuir com uma melhor qualidade de vida para todos.
Obg pelos comentários, volte sempre!
Cont. Edimar
ResponderExcluirPicos - PI, 09/05/2012.