sexta-feira, 1 de abril de 2011

Humor com verdade

Assim como o autor do texto abaixo, me neguei a escrever uma linha sobre uma "grande polêmica" causada por um ator de teatro que ia se apresentar em Teresina. Dentre tantas bobagens que li depois disso, me conforta por demais saber que existem muito mais pessoas que pensam coisas parecidas com os meus pensamentos. Por isso, resolvi reproduzir aqui um texto muito engraçado do Danilo Damásio, onde o bom humor e uma dose ideal de verdade podem ser notadas. Aproveitem pra rachar de rir que nem eu fiz, sozinho em meu quarto...

Por Danilo Damásio


No Piauí, a bufa duma muriçoca vira um trovão. Viu, Seu Marauê?



Três coisas não faço mais



Minhas amadas leitoras e meus queridos leitores, quequiá?! Começo esta coluna de hoje dividindo com vocês uma decisão que tomei esta semana para toda a minha vida. Não vou mais a formaturas. É o fim! É o fim de uma vida sem compromissos. Ninguém espera muito de um cidadão que ainda está nos bancos de uma faculdade. Nem que ele pague suas próprias contas. É o coitado pegar o canudo e jogam a carga do mundo todo nas costas dele. Tem que procurar emprego, tem que passar em concurso e o escambau. É luta!!!


Também não vou mais a casamentos. É o fim! É o fim de uma vida de liberdade, na qual o cristão exerce plenamente o seu direito natural e constitucional de ir e vir. Casou? Adeeeus, rosa! Tem que dizer pra onde vai, com quem vai, o que vai fazer, quando volta... Mas não basta dizer. Aqui acolá, ainda passa por aquele bocado de estar numa mesa de bar com os amigos e a mulher ligar no celular, toda cheia de razão, e inquirir: “Tu tá onde? Quem tá ai? O que que tu faz que não vêim pra casa? Diabéisso? Tu casou e quer levar uma vida de solteiro? Só no inferno! ... “ É a morte em vida!! É luta!!


Outra: não vou mais a velório. É o fim! Aí é que é o fim, mesmo!


Também não vou mais votar! Na campanha, o candidato é meu amigo, me paga bebida, me liga todo dia, me enche de promessa, me enche as venta de folha... E, quando acaba a eleição? Dinéelsu!! O homem desaparece! Aí é o fim! É o fim de uma amizade que eu tava crentezim que era pra vida toda! É luta!


E quer saber de mais uma? Também não entro mais em confusão. Já que toda confusão tem dois lados, por mais que você ganhe, você acaba perdendo, porque sempre desagrada a alguém. Por isso mesmo, jurei pela luz da Cepisa que não vou me meter nesta confusão que um tal de Marauê, ator do Sul do país, armou quando postou no Facebook que o Piauí é o cú do mundo. Pronto! Fedeu! Caíram de pau nele!


Óia! Igí! Eu vou bem ali assim e volto já,já, viu?


O fiofó de cada um


Tem coisas na vida que quando tão perto fazem raiva e quando tão longe fazem falta: fusca e menino ruim são duas delas.


Outras, funcionando bem, ninguém lembra que tem, mas quer ver o cabra se lembrar e num instante virar a coisa mais importante do mundo é tá esculhambado. Dente e fiofó são duas delas.


De dente, eu não preciso falar. Todo mundo tem – ou teve – pelo menos 28 na boca. A chance de já ter sentido dor é grande. Eu quero falar é desta outra parte que todo mundo só tem um e costuma não dar... o devido valor.


Numa poesia chamada “Matuto Doente das Partes”, o Jessier Quirino faz uma verdadeira obra de arte sobre este órgão tão importante:


“No tronco do ser humano,/nos "finar" mais derradeiro/tem uma rosquinha enfezada/que quando tá inflamada/incomoda o corpo inteiro//se tossir, se faz presente/e se chorar se faz também./ O "cabra" não pode nada/com nada se entretém/eu lhe digo, meu "cumpade"/não desejo essa "mardade"/ pra rosca de seu ninguém...”


Eu tiro que uma coisa é importante quando tem muito apelido. Quer ver? Mulher: broto, gata, rosa, fulô, deusa, princesa, rainha, filé, boneca, paixão, razão, amor, avião, tchutchuca, beibi, râni... E dinheiro? Este é que tem mesmo: tutú, vintém, corró, cascalho, tustão, conto, barão, pila, bala, unzim, merenda, bufunfa, volumoso...


Mas, em matéria de sinônimos, nenhuma das coisas importantes chega nem às prega do tanto de nome que dão para essa parte do corpo da gente que não anda nem se amostrando. Veja aí o tanto de nome que o Jessier arranjou : “bufante, frescó, apito, bozó,furico, fedegoso, piscante, pelado, boga, fosquete, frinfra, sedém, ficha, vintém, ás de copa, foba, "oi" de porco, "ané" de couro, cagueiro, pregueado, boca de "veia", zangado, aro treze, carrapeta, rosca, frasco, ceguinho, tripa gaiteira, fonfom, mucumbuco, forever, x.p.t.o., "subiador", tripa oca, boca de caçapa...”


Lá pelo final do poema, o Jessier relata como foi o encontro do matuto com o médico:


“O doutor se preparou-se,/ parecia Galileu/aprumou um telescópio/quem viu estrela fui eu.//Ele disse:"arriba as pernas"/Eu disse:"tenha calma, sonho meu"/A partir daquela hora,/Perante Nossa Senhora,/Não sei o que "assucedeu"...”

Bufa de muriçoca


Voltei! Quando o post do Facebook do tal do Marauê caiu na boca do povo, o efeito tsunami da internet fez com que em pouco tempo a cidade toda ficasse sabendo da atitude dele.


Como eu já sou passado na casca do alho, não me surpreendi com a barulheira. Numa terra em que não acontece nada, a bufa de uma muriçoca vira um trovão. Eu fiquei cá na minha, vendo o circo pegar fogo. Teve gente da mídia que se apressou logo em fazer debates no rádio e na TV, em defesa da honra do Piauí. Outros, dos meios escritos, fizeram notas e artigos, cada qual mais indignados com a desmedida ofensa aos nossos brios. Teve gente que enterrou foi ovo pra gorar e jogar no rapaz na hora do espetáculo, que ia ser apresentado no Teatro da Assembléia. Teve gente ainda que chegou ao limite de pedir a prisão do ator. E, por fim, o petista Fabio Novo cavou seus 15 minutos de fama. No exercício da presidencia da Assembléia, proibiu a encenação da peça no Teatro daquela casa. Com isso aí, o ator e sua equipe aberaram. Anoiteceram e não amanheceram!


Só esqueceram foi de perguntar para o Marauê, onde ele estava quando colocou aquela mensagem na internet. O Piauí pode ter cometido uma tremenda injustiça com o rapaz.


Já pensou se ele, naquele momento estivesse dentro de um buraco da Avenida Henry Wall de Carvalho? Ou dentro da Uespi? Ou do lado da Ceasa onde matam os porco? Ou na obra inacabada do Centro de Convenções? Ou no Verdão, abandonado? Ou na Potycabana? Ou no interditado Teatro 4 de Setembro? E se fosse no interior do Mercado Central, escuro, apertado e fedorento? Tava certo ou não tava?





e-mail:damasio.danilo@yahoo.com.br



twitter: @damasiodanilo




Fonte AQUI

3 comentários:

  1. Chico, obrigado por reproduzir meu texto em seu prestigiado espaço.]
    Danilo

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  2. Chico, esse cabra é arretado!
    MARAVILHOSO!!!!!!!!!!
    Bj

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