Está estampada hoje, no sitio da internet http://www.noticiasdefloriano.com.br/ mais uma noticia sobre a seca que todo ano acontece no sertão nordestino. Todos os anos também, desde que me entendo por gente, existe época pra se falar nisso: toda vez que as chuvas vão embora.
Não sou nenhum especialista em história natural, mas o que se comenta com bastante ênfase no meio acadêmico das ciências biológicas, fundamentado em extensa literatura, é que a vida, nas diversas formas que se apresentam, comunga de uma característica interessante para discutirmos nessa pauta: a Adaptação. Eu particularmente não acho a seca em si algo que seja um “Castigo de Deus” ou outra coisa do tipo que assim as pessoas colocam.
Levando em consideração que a Terra passou por diversos períodos de glaciação, seguido de aumento da temperatura, a de se considerar que as condições por aqui não favoreceram muito algumas formas de vida até então existentes. Parece que em épocas remotas da história da Terra não havia um “condicionador de ar” para aliviar as coisas. Então, as que não sucumbiram foram as “mais fortes” e resistentes (lembrar da Teoria da Seleção Natural, de Charles Darwin), deixando seus descendentes com amparo genético suficiente para suportar tais adversidades.
Outra teoria que pode muito bem ser aqui registrada é a do Refúgio, que tem como defensores grandes nomes como Azziz Ab’Sáber, Jürgen Haffer e Paulo Emílio Vanzollini. Estes últimos descobriram convergentemente, estágios de ciclos transitórios causados por perturbação do ambiente, estudando aves e lagartos, respectivamente, aqui na América Tropical.
Trocando em miúdos, isso quer dizer que, certamente, o que hoje é o sertão nordestino, seco, árido e aparentemente sem tanta vida nessa época, antigamente era uma floresta exuberante, assim como hoje é a Amazônica e a Mata Atlântica. Algumas pessoas falam em conversas informais, que toda essa região um dia foi um bioma único (p.e. Amazônico). E nem é tão difícil de imaginar se nos lembrarmos que a Caatinga e o Cerrado estão entre aqueles dois ecossistemas. Todas as evidências levam para essa interpretação e assim creio que temos grandes possibilidades de entendermos como as diferentes formas de vida da nossa região conseguiram se adaptar a essa mudança tão brusca, que nós seres humanos temos intensificado a cada dia.
E o que a biologia tem a ver com o ponto central da questão? Poderia muito bem alguém aqui indagar. É que hoje, eu respondo, inventaram o aparelho de ar condicionado. Assim, enquanto o homem do campo se adapta de todas as maneiras para suportar as adversidades do clima, o “representante do povo” tem ar frio em todos os cômodos da casa, inclusive o banheiro que é tido por todos como o canto mais frio e úmido da casa. Tem também chuveiro elétrico, que de tão frio que ficou o banheiro, precisa esquentar a água do chuveiro porque seu reservatório esfriou. A conta de tanto gasto? A natureza poderá responder com toda sua força e inclemência.
É isso ai, se adapte ou vire um político comum. É por isso que, em minha ótica, enquanto alguns homens de boa fé tentam (pelo menos...) encontrar medidas mitigadoras contra a seca, muitos porcos imundos se banham com o nosso dinheiro. É revoltante ver que todo ano as pessoas perdem tempo por uma coisa que pode ser resolvida com planejamento em longo prazo. Quero ver estampado no ano que vem a mesma notícia. Vai ficar aqui registrado.
Fonte: Haffer, J. 1992. Ciclos de tempo e indicadores de tempos na história da Amazônia. Estudo Avançados, 6(15).