Rogério Parentoni Martins
Caminhava por uma praça em Belo
Horizonte, quando escutei de um garoto cerca de 10 anos: “mãe, é impressão
minha ou o mato cresceu?” O mato a que ele se referia é um gramado que circunda
parte do perímetro da praça. A mãe respondeu: "cresceu sim, meu filho,
você tem razão". A despeito de ser trivial, o episódio desse curto diálogo
que, afortunadamente, pude ouvir levou-me a refletir sobre a incerteza das
certezas. O garoto procedeu com cautela ao duvidar que o fato de o mato ter
crescido poderia ser apenas uma impressão sua; expressou honestamente sua
dúvida sobre se realmente o mato haveria crescido após sua última estada na
praça. Talvez o garoto ignore, mas a dúvida e curiosidade, demonstradas por
meio de sua cautelosa pergunta, são os principais "drivers" do conhecimento científico. Por isso, ocorreu-me
estar diante de um potencial cientista. Ocorreu-me também que a
"certeza" da mãe, árbitro com autoridade naquele momento crítico de
dúvida, poderia ser equivocada por dois motivos: i) a certeza da afirmação
materna poderia eliminar a possibilidade de que o garoto pudesse continuar a
refletir sobre a dúvida, desvanecendo rapidamente sua curiosidade, e ii)
poderia ser o início de acomodação sobre o pensar sobre eventos, triviais ou
não, e estimular submissão à opinião de quem ele julgar superior a si em
vivência e conhecimento. Ambos os motivos podem alimentar mitos, resultados de
observações superficiais sobre a ocorrência de eventos ou fenômenos complexos,
repetidos à exaustão. Quantas vezes repeti sem duvidar sequer um centímetro da
certeza do que me disseram professores ou autoridades. Felizmente, não percebi
tarde demais o meu equívoco. Tornei-me cauteloso como o garoto cuja afirmação estimulou
essa reflexão. Espero que o garoto continue a duvidar de suas próprias opiniões
e das opiniões de outros; se optar em tornar-se pesquisador possa avançar mais
cedo do que estou a avançar, por ter percebido mais tarde esse aspecto
importante sobre a origem do conhecimento. Finalmente, espero que garotos com
tal potencialidade não sejam massacrados em sala de aula, simplesmente por
duvidar e expressar suas dúvidas, transformado-se em um adulto submisso à 'veracidade'
das "incertas certezas".
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