sábado, 12 de junho de 2010

Na Marupiara não existe panema


"Sorte na caça e pesca" é o que significa o nome Marupiara. Tanta sorte assim tive eu em conhecer um lugar belíssimo, aqui no coração da Amazônia Central, mais precisamente no município de Presidente Figueiredo, Amazonas. O lugar é uma espécie de Hotel de Selva, e recebe turistas fascinados por natureza, que vão atrás de caminhadas ecológicas em suas trilhas e mergulhos relaxantes na companhia de peixes que só tem por aqui.

Pensando nisso alguns alunos de PCI (Programa de Capacitação Interna) do INPA resolveram investigar a fauna de peixes de diversos igarapés dessa região no sentido de entender seus vários aspectos como, por exemplo, a evolução desses bichos que, ao que tudo indica, têm uma estreita relação com o ambiente.

É nesse lugar que estão peixes bem curiosos da família Crenuchidae (Pisces: Characiformes) que chamam atenção pelas suas grandes nadadeiras. Essa é só uma das tantas adaptações que os bichos devem ter pra enfrentar as fortes corredeiras, que são abundantes na região. Coletamos nesse lugar espécies dos gêneros Characidium, Leptocharacidium e Melanocharacidium (foto) que se adaptaram morfologicamente, sempre mimetizando o ambiente. Como seus locais preferidos são pedrais em fortes correntezas, eles precisam necessariamente de um ambiente muito bem oxigenado, o que significa dizer que se esses lugares não mais existirem, tais bichos estarão fadados à extinção.

Pra coletar esses caras não foi nada fácil, muito menos pra quem não tem tanta experiência que nem eu. Foram empregadas redes de arrasto e por conta da forte correnteza fomos obrigados a enfiar um neoprene pra mergulhar e catar os bichos com redinhas de mão. A idéia também é fazer uma espécie de catálogo com as diversas espécies de peixes daqui para divulgar mais ainda o local. Assim, outras pessoas poderão ter a oportunidade de usufruir do ambiente com mais responsabilidade.

E, como os amazônidas falam, nós não panemanos* dessa vez. Lá na Marupiara é impossivel pra qualquer pescador não pegar nada (risos). Apesar das grandes investidas que nós seres humanos fazemos para que o planeta entre em colapso, a vida sempre nos dá respostas incríveis e na maioria das vezes ininterpretáveis por nosso tão grandioso "arsenal bélico" de conhecimento.

Tentei postar um videozinho do lugar só pra deixar vocês com um pouquinho de inveja, mais infelizmente minha internet aqui é uma piada. É uma riqueza só esse lugar! prometo que vou continuar tentando. Ah, ia esquecendo: na Marupiara tem bar e ambientes temáticos, restaurante e chalés para casais com diária a R$ 130,00. Vale a pena conhecer, sempre há o que fazer na sua excelente infraestrutura.


* panemar, para os amazônidas significa ter azar na pesca

sábado, 5 de junho de 2010

Dia internacional da pátria amada




É nessa data que mais tenho a certeza que um dia internacional disso ou daquilo na maioria das vezes é pura bobagem, ou no mínimo, coisa de alguém que nunca teve o que fazer. Sempre passa um filmezinho na minha mente toda vez que ouço falar de um feriado ou dia comemorativo, e sempre penso o porquê e qual a vantagem de termos um dia tão especial para cada valor que temos. Tipo, um dia das mães, um natal ou alguma coisa nessa linha, certamente tem um significado para a maioria das pessoas com um “enredo”, uma historinha que as fazem refletir e acharem que podem ser melhores que são.


Agora me pergunto o que vamos refletir num dia como o do “Meio Ambiente”. Primeiro, por ser um termo redundante (se é meio, não é ambiente?) e depois por tudo que a espécie humana (dona/autora do valor da data) tem feito em prol do meio onde vive. Depois de pensar um bocado sobre o tema, quis justificar, como ser humano, que de repente isso serve de alerta para uma grande maioria da população que tem acesso a informação mais não faz uso adequado dela por diversos motivos. Do meio pro fim da reflexão, me vi num velório onde o defunto era nada mais nada menos que o planeta (risos).


Parece também um ato heróico de alguém que, por algum motivo, convenceu meio mundo de pessoas a lembrar que o nosso hábitat é algo concreto, que existe de fato. Entretanto, não creio que temos muita coisa a comemorar. Todos estão carecas de saber que nós (Homo sapiens) somos os principais causadores de problemas ambientais gravíssimos, como por exemplo, a poluição e a extinção de grande parte da fauna e flora contemporânea. Fiquei, no entanto, viajando e imaginando como nossos amiguinhos da megafauna sucumbiam diante de uma organização tão eficaz quanto a nossa, apesar de sermos tão menores que eles... É a lei do mais forte, já dizia também Darwin.


Só que a organização do nosso Homo primitivo (se assim posso chamar) contrasta gritantemente com a atual, no meu modo de pensar. Hoje temos carne no açougue pra comprar (e por peça ein!) arroz, feijão e milho enlatado, além de otras cositas más que são gostosas. No Brasil, temos ainda samba (que adoro!), mulheres lindas (nossa, quanta riqueza!) e toda essa riqueza biológica debaixo de nossos narizes. Mas, o mais legal disso tudo é que temos futebol! E é aqui que, de quatro em quatro anos, nós somos tão patriotas quanto cuidamos do nosso ambiente. Legal né?


O ser humano é sim um bicho muito interessante e quando ele quer, faz. Não é a toa que chegou a lugares tão inóspitos, apesar de não ser tão bem adaptado quanto achamos. A prova disso tudo, é só ir ao bairro Coroado, aqui em Manaus ou a tantos outros lugares Brasil afora, onde a paisagem atual foi rapidamente modificada em tons de verde-louro de nossa flâmula. E os carros? Cada um deles tem uma bandeirinha tremulando na anteninha, muito bonitinho. Tão bonito quanto a fumaça não catalisada de alguns caminhões que também têm tal adereço.


É isso ai. No final das contas “Meio Ambiente” se torna, em todos os sentidos, tão ridículo e hipócrita quanto o nosso patriotismo. Salve a pátria amada!