quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Arrepio

Tem coisa melhor do que sentir
aquele arrepio, daquele que te faz vivo?
Que te faz sentir a alma
bem no seio da tua veste fincada?

Tem coisa melhor que ouvir
um belo passarinho, que de tanto ouvir o rio
imita o som das cachoeiras
que deságuam dentro de nós?

O arrepio faz da pele sua morada instantânea:
Faz de cada pêlo uma lança que te aponta para a alma;
faz do corpo uma estrada pra bem longe, bem lá no infinito,
para muito além do percurso definido...

O arrepio nos deixa tênue:
promove o medo em sua mais fiel essência;
como se estivéssemos nadando rio acima
tal qual um peixe e seu cardume...

O medo nos faz vivo e por isso as aves voam.
Por isso o peixe vive a lutar contra seu algoz pescador:
não ha rede que o impeça de nadar contra o amor;
não ha céu que nos limite de viver contra uma dor.

E por falar em desafios, em viver contra o perigo,
mergulho firme nesse mar de calafrios.
Sinto arrepios a pensar em desatinos,
na pele clara que ilumina meu céu de estio...

Não corro contra o vento, nem vou contra a corrente
fugindo do meu carrasco: ele é o meu amigo,
é o meu ente mais querido, quem me faz arrepiar:
ele é só a dor de dente, do nosso dia a clarear.