Depois de muito tempo sem postar notícias e/ou reflexões, estou de volta. Dessa vez, vou publicar, na íntegra, uma série de artigos redigidos originalmente para a disciplina "Métodos e organização de trabalhos científicos", ministrada pelo Profº Rogério Parentoni no Programa de Pós Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFC, campus Pici. Ele nos propôs, para que melhorássemos nossa escrita, que escrevêssemos semanalmente artigos curtos, de no máximo 45 linhas, sobre temas relacionados à ecologia. Era pra ser um treino, mas levei a coisa a sério e saiu pelo menos mais três além desse que segue abaixo. Os demais serão paulatinamente publicados.
Em fevereiro de 2010, corria a notícia
num desses sites regionais do sul do
Piauí que a seca era avassaladora no semiárido nordestino. À época, estudava
mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus-AM, e
recorria sempre às tais páginas na internet para saber notícias de minha
cidade. Vendo tal notícia, veio de
súbito perguntas que acho que nunca vão calar, como por exemplo: até quando continuarei
vendo notícias similares? Quem tem interesse que notícias sobre a seca
continuem a ser veiculadas? Existem pessoas tão desumanas a ponto de não quererem
resolver politicamente tal problemática?
Por isso, resolvi escrever uma pequena
nota num blogue que mantenho desde quando me mudei pra Amazônia (www.chicomariofeitosa.blogspot.com),
sob o título “Que seca?”, questionando o poder político sobre a problemática e
o quão natural esse fenômeno é. O principal motivo daquela postagem era deixar
claro a minha indignação sobre tudo que cerca o tema, além de também deixar
registrado que mais notícias sobre a seca no Nordeste seriam veiculadas ano
após ano.
O fato é que a “seca” é um evento
natural que ocorre não só no Nordeste brasileiro, mas em muitas outras regiões
pelo planeta afora. É uma condição que remete à características do ambiente e
basicamente se trata da insuficiência de precipitação pluviométrica numa região
(chuva), seguida de um déficit hídrico, ou seja, um balanço negativo entre a
entrada de água e a sua perda por processos naturais, como a evaporação causada
pela insolação.
Abrindo um parêntese sobre o conceito de
seca, proponho o seguinte teste: digite no google
a palavra “seca” e faça a mesma pesquisa num dicionário formal de português.
Com exceção de uma única citação sobre “lei seca” implantada recentemente no
país, o resto da pesquisa informal indicará uma relação direta entre a palavra
e o fenômeno climático em questão. Formalmente, tem-se como um “ato de pôr a
secar ou enxugar” (Dicionário Priberam).
Situando o fato climático com as notícias,
surpreende-me por exemplo, coisas como as que estão acontecendo no Sistema
Cantareira. São coisas que mais frequentemente acontecem em regiões semiáridas,
como no Nordeste. Mais uma vez pergunto: de quem é a culpa? Dos gestores, da
falta de interesse deles ou da natureza? Já pensou no caos que a Grande São
Paulo pode passar se faltar água pros mais de 10 milhões de habitantes de lá?
Já pensou se não chovesse até o estado caótico de fato se concretizar?
Sim estou falando da região do país que
é mais importante em termos econômicos. É lá que estão concentradas as principais
fábricas de tudo que se consome no país. Pode parecer presunção minha mas,
mesmo antes desse problema acontecer lá em São Paulo eu já me fazia essa
pergunta. E mais: acho que veria com meus próprios olhos o problema resolvido,
de alguma maneira.
Assim, não estou propondo que para um
eventual “caos” no abastecimento de água em São Paulo, um “artifício antiético”
seja usado para resolver o problema. Mas que, de fato, se encontrem
alternativas sustentáveis para o problema. No meu humilde modo de pensar, o
clima semiárido nordestino é perfeito para testes de como convivermos bem
nessas condições. Já viram exemplos como nos desertos de Israel? É, na minha
opinião, um dos exemplos a serem seguidos por quem quer realmente resolver o
problema da “seca” no Nordeste brasileiro.
As ciências que
tratam de coisas particulares como por exemplo a biologia, física, geologia e meteorologia
podem ajudar muito no processo de melhoria da convivência em climas semiáridos.
Só falta mesmo que os representantes sintam-se envergonhados de continuarem a
serem assim por pura e simples falta de competência. Sei que pode soar um tanto
quanto utópico, mas talvez assim os tomadores de decisão comecem a pensar no
próximo. Não quero pensar que, pra isso acontecer, devemos passar por um
eminente e desastroso caos.