Segundo o site Wikipédia, as dragas são um tipo especial de embarcação, projetadas para as mais diversas funções que digam respeito ao fundo de qualquer corpo ou curso d’água, que não seja muito profundo. Algumas delas são usadas para retirar areia dos grandes portos marítimos, dos canais por onde passam os navios e existem ainda as dragas móveis, que são usadas para o desassoreamento dos leitos de rios. Como se percebe, existem diversos tipos que são destinadas aos mais devidos fins, tanto em beneficio quanto em malefício para os corpos d’água em questão.
Dentro desse contexto, há muito se sabe que a utilização de dragas tanto pode ser usada como uma ferramenta para a resolução de problemas ambientais como o contrário. Em minhas andanças por Floriano e baseado em pesquisas sobre esse tema, percebi que o assunto “Dragas” mexe muito com o imaginário de várias pessoas preocupadas com a saúde desses corpos d’água, principalmente rios em nossa região, tanto no Piauí como no estado vizinho do Maranhão. E eles podem ter sim certa razão por causa dos vários aspectos e características que um rio apresenta em sua essência.
Em se falando de rios (i.e. curso d’água), primeiro vamos analisar a seguinte situação: o que é um rio? Bom, se falar em rio, estritamente, nos leva a um outro conceito muito mais abrangente que é o de bacias hidrográficas. É por essa rede de drenagem que se formam os pequenos e grandes cursos d’água que se conectam a uma “calha principal” ou rio principal, que tem a função de levar ao mar toda a água excedente proveniente da massa de terra, ou continente, como assim conhecemos.
Bom, o fato é que esse caminho percorrido pela água pode ser curto ou longo, tudo depende do ciclo da água na Terra. Quando a água se precipita em forma de chuva, ocorrem vários fenômenos que além de promoverem um novo ciclo, vital para várias espécies, ela pode ainda percorrer vários outros caminhos, desde o seu escoamento superficial à percolação (infiltração de água no solo) que, como se sabe, podem originar fontes subterrâneas, importante componente ecossistêmico. Outra coisa que deve ser aqui atentada é o fato de que logo em seguida às precipitações torrenciais (muito comuns em nossa região) ocorre sempre lixiviamento, um escoamento superficial que varre, lava e leva tudo que pela frente está.
Por gravidade, e após a chegada dessa massa d’água aos riachos e rios principais, uma grande quantidade de sedimentos é a ela agregada. Não raramente percebemos que a coloração natural da água muda radicalmente, ficando amarronzada, ou suja, como assim dizem os ribeirinhos.
E aqui chegamos a um dos pontos principais em nossa discussão sobre dragas. Pergunto eu: O que de fato ocorreria se não existissem as dragas para “aproveitar” o excesso de sedimento que é carreado pelo rio Parnaíba? Eu mesmo respondo: Vários benefícios situados à sua margem se perderiam em suas profundezas na primeira enchente!
Não estou, portanto, defendendo a utilização desses equipamentos nem tampouco das benfeitorias (casas, roçados...) nas margens dos rios. O que eu quero dizer é que agora, o problema não são as dragas, e sim o excesso de matéria-prima por ela aproveitada. Naturalmente, os cursos d’água doce carreiam quantidades expressivas de sedimento (areia, argila e afins). E eles (os cursos) são como seres vivos: nascem buscando caminhos para escoar suas águas, amadurecem quando formam sua grande rede de drenagem e, enfim, podem perecer pelas mais diferentes causas. Uma delas é a causada por nós, que não respeitamos seus limites e características.
Quando desmatamos grandes áreas para o plantio de soja, por exemplo, não estamos respeitando os limites de um curso d’água que por ali tem uma parte de sua ramificação. Quando retiramos grande parte da cobertura vegetal das margens e de todo o arredor, para plantar comida de boi, também. E é o que está acontecendo em nossa região. Dessa maneira, mais sedimentos são lançados nos sistemas hídricos, provocando assoreamento dos cursos d’água, tão importantes para todas as cidades que se estabelecem ao longo deles.
Todo o problema de assoreamento da calha principal do Parnaíba, por exemplo, certamente vem daí. E ainda culpam com toda veemência os dragueiros como se só eles fossem os culpados pela problemática ambiental de nossa região. Infelizmente não estamos cuidando do nosso tão precioso chão como deveríamos. Pelo fato de nossa região ser uma área de transição de ecossistemas com imponentes traços do cerrado, tais características confirmam um “ar de fragilidade” a essa nossa região que tão peculiar é.