quarta-feira, 27 de maio de 2009

Peixe Bom de Comer (?) II

Perca do Nilo (Lates niloticus)


Existem sim inúmeros casos que podemos comparar com os nossos, de introdução de espécies causadas pelo homem em todo o planeta - e não somente de peixes - que causam prejuízos tanto ambientais quanto econômicos. Um exemplo é a do mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), um "Made in China" que dificulta o perfeito funcionamento das turbinas de usinas hidrelétricas como a de Itaipu, no rio Paraná.


De repente, num dos seminários de Biologia da Conservação, ministrado pelo Dr. Fernando Fernadez (UFRJ) me deparei com outro caso assustador de um bicho que foi introduzido no Lago Vitória, na África Oriental, que segundo o site Wikipédia é o maior lago tropical do mundo e o segundo maior lago de água doce do mundo em termos de área, com 68.870 quilômetros quadrados. Esse “bicho” é vulgarmente conhecido como Perca do Nilo (Lates niloticus) - olhem a coincidência – e foi introduzido após uma brilhante idéia de alguém que queria somente aumentar a oferta de pescado.

Só que esse brilhante homem não conhecia as espécies, a ecologia dessa rica fauna de peixes do lago Vitória (ictiofauna) e nem tampouco desconfiava que a perca poderia causar um profundo impacto nessas populações (Lowe-McConnell, 1999). O fato é que aconteceram duas grandes coisas que aqui podemos destinguir: 1 – Com a introdução da perca, as populações de peixes sofreram profundas alterações, ou seja, se extinguiram ou, no caso da grande minoria das espécies, mudaram de nicho, ocupando outras áreas do lago antes não ocupadas e até mesmo em condições adversas, como a falta de oxigênio (hipóxia); e 2 – Como a perca possui uma grande quantidade de gordura, os nativos tem que defumar sua carne: para isso, desmataram grandes áreas de florestas ao redor do lago. Para eles, a carne da perca não é tão saborosa quanto à dos peixes nativos que simplesmente sumiram após sua chegada.

Notem, meus queridos, que a perca é parente muito próximo (são da mesma Ordem, Perciformes) do tão famigerado Tucunaré e da Tilápia, que atualmente habitam as águas do Velho Monge. Portanto, não só existe a possibilidade de extinção das nossas espécies como também a de muitos ribeirinhos não ter mais, no futuro, algo para comer do rio.

E se um dia isso acontecer, de quem será a culpa? Dos peixes que não são de lá? Lembrei-me nesse momento, de um côro que o Prof. Fernando nos fez memorizar quando ele perguntava, por exemplo, “Por que não existem mais pingüins no Pólo Norte?” Sim, porque o homem os extinguiu. Porque infelizmente a falta de bom senso nos faz crer que somos uma espécie superior a todas. Que coisa... Qual é mesmo o motivo desse medo causado por um mísero vírus chamado H1N1? Calma gente, ele é só um vírus...


Já imaginaram se a espécie humana conseguir se extinguir e, se por acaso outra (muito mais inteligente) aqui chegasse em seguida e entendesse, pelos registros fósseis, que uma única espécie promoveu uma carnificina geral? Que existiam muitas espécies passeriformes que não voavam e grandes animais que chamamos de “megafauna” que se extinguiram após sofrerem forte pressão humana? Com certeza procurariam outro mundo para viver. Seria algo como chegarmos a uma cena de homicídio que acontecera recentemente.


domingo, 24 de maio de 2009

Peixe bom de comer...




Assim como na amazônia - e não somente a brasileira -, centenas de milhares de pessoas utilizam os recursos naturais disponiveis para sua subsistência no Brasil. A fauna de peixes é por sua vez, um desses recursos que são a única fonte de proteína animal e que certamente é sobrexplorada em muitas localidades. Lugares onde antes a exploração dita "sustentável" acontecia, hoje submetem-se a "projetos de produção" que nada mais são do que verdadeiros elefantes brancos, ineptos e desproporcionais para cada realidade onde são implantados.

Advém daí, em muitos casos, um problema que aos olhos de leigos contituem uma mera naturalidade, uma obra do acaso antropológico sobre o ambiente. Várias espécies de peixes exóticos podem promover uma verdadeira chacina quando introduzidos em ambientes onde as espécies nativas levaram milhares de anos para evoluir e ocuparem o seu lugar dentro de cada nicho específico (função exercida por cada espécie em seu ambiente).

Basta olhar para a tilápia (Oreochromis niloticus), uma espécie do rio Nilo, e perceber o quão adaptada ela é no que diz respeito à sua rusticidade, ou seja, capacidade que tem em suportar ambientes adversos e muitas vezes impróprio para outras espécies (em muitos casos, ambientes antropogênicos). Trocando em miúdos, ela é tão adaptável que se encaixa perfeitamente em quase todos os nichos aquáticos conhecidos.

Agora eu me pergunto: Por que, meus caros tomadores de decisão do Piaui, os senhores teimam em introduzir essa tilápia na bacia do Parnaíba? Para aumentar a oferta de pescado? Acho que, sinceramente, os senhores precisam de aulas de ecologia de populações para perceberem a monstruosidade na qual estão tornando as águas do Parnaíba, que certamente vai diminuir a longo prazo a propria oferta de pescado. O motivo? Veremos adiante.

Em levantamento prévio realizado, um trabalho intitulado "Diversidade íctica do rio Parnaíba a partir dos conhecimentos de uma população ribeirinha em Floriano - PI" (Feitosa & Lima, 2008) mostrou que pelo menos duas espécies são introduzidas. Cichla ocellaris (foto) e Colossoma macropomum (tucunaré e caranha, respectivamente) são nativas da amazônia e como a primeira é predador topo de cadeia, pode a curto ou médio prazo, desmantelar a cascata trófica original entre as espécies nativas, ou seja, ela simplesmente pode consumir todo o recurso disponível (os peixes nativos) e acabar ela mesmo sucumbindo pelo esgotamento deste.

Certamente esse problema foi causado por produtores de peixes em cativeiro que, irresponsavelmente, deixaram escapar individuos para a bacia. Esse fato é inerente à pisciculturas e sempre aconteceu, inevitavelmente. Não quero aqui culpar A ou B pelo acontecido, reconheço o papel das pisciculturas. Mas, porque não usar espécies nativas da bacia, que certamente possuem potencial econômico? Alguns biólogos são contra até mesmo essa prática, devido ao empobrecimento genético, mas não vejo outra saída para evitarmos uma superexploração dos recursos ainda disponível para nós e futuras gerações. Como disse Júlio César, "Alea jacta est".

O Muiraquitã




Nessa minha visita à Amazônia deparei-me com um mundo novo e totalmente adimirável. Grandioso sim, mas não ilimitado como muitos imaginam. E uma das maiores riquezas é sem dúvida o povo desse lugar, além é claro, dos seus recursos naturais. Por isso, nessa minha primeira postagem resolvi comentar sobre o nome de um espaço cultural concebido em sociedade por alguns bolsistas do Inpa - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Ele se chama Muiraquitã e tem como principal objetivo divulgar arte em todos os sentidos.


O Muiraquitã,
Por Walcyr Monteiro



Muiraquitã é o nome que os índios davam a pequenos objetos, geralmente representando uma rã, trabalhados em pedra de cor verde, jadeíta ou nefrita, podendo existir em outros minerais e de outras cores. Conhecidos desde os tempos da descoberta, foi entre os séculos XVII e XIX que se tornaram mais procurados, sendo atribuídas qualidades de amuleto ou talismã e ainda virtudes terapêuticas. O muiraquitã atraía sorte para os seus possuidores e também curava quase todas as doenças.
Mas... qual a origem do muiraquitã? Por que se atribuíam tantos poderes a um simples pedaço de mineral?


Encontrado principalmente na região do baixo Amazonas – por conseguinte justamente nas adjacências da foz do Rio Nhamundá, de cuja confluência com o Rio Amazonas pretensamente Orelhana encontrara mulheres guerreiras – o muiraquitã deu muito o que falar e gerou muitas controvérsias. Foi contestada inclusive sua origem, que não seria amazônica e sim asiática... Mas aqui não se vai discutir a origem arqueológica! O que nos interessa é saber como o muiraquitã entra na história e no lendário da região...!


Autores há que afirmam que Orelhana, cuja aventura vimos antes, não combateu com mulheres. Na verdade, teria se defrontado com uma tribo de índios encabelados, os quais, na guerra, eram auxiliados pelas mulheres, daí Orelhana Ter se confundido. Mas outros, inclusive o Frei Gaspar de Carvajal, que participou da expedição, dão o testemunho da existência das mulheres guerreiras, no que são acompanhados por descrições de diversos índios... Mas estes não falavam em amzonas, até porque não sabiam o que significava. Os índios falavam em Icamiabas, que significa "mulheres sem marido".


As Icamiabas viviam no interior da reghião do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por suas próprias leis. Durante muitos anos foram procuradas por diversos estudiosos e exploradores, porém nunca foram encontradas. A região era denominada por estes aventureiros de País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a dos Guacaris. E por que a denominação de país das pedras para País das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os muiraquitãs, as famosas pedras verdes... Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam. Depois do acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria- prima com que moldavam os muiraquitãs, os quais, ao saírem da água, endureciam. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor... Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam os filhos para os guacaris...


Fantasia? Obra da imaginação? Patranhas de viajantes, cronistas e aventureiros? Hoje, tantos anos depois, é difícil de julgar. Mas os muiraquitãs existem: estão aí a enfeitar museus ou nas mãos de colecionadores particulares...Amazonas ou Icamaibas, a lenda foi tão forte que designou um rio, um estado da Federação e a toda uma região. Pode até não Ter fundo de verdade, mas que é linda é! Já pensou o que é fazer amor com uma bela mulher numa noite enluarada, à beira de um lago a espelhar a lua, em plena selva? E ao fim ainda receber de presente um muiraquitã ? Se não é verdade, deveria ser!


De qualquer forma, quando se pronuncia Amazônia, não se pode deixar de pensar em muiraquitã e em mulheres guerreiras, mas também amorosas, como aliás são as mulheres da Região Amazônica...